Título: Contra corrupção, 'não deixaremos pedra sobre pedra', diz presidente
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou ontem seu programa quinzenal de rádio - o Café com o Presidente - para assegurar que o governo está combatendo a corrupção com vigor inédito. "Não deixaremos pedra sobre pedra", disse. "Agora as pessoas têm apenas que ter paciência, porque não é o presidente que pode colocar alguém na cadeia. Quem coloca na cadeia é a Justiça. Porque eu sei que de vez em quando as pessoas falam, e eu falava isso quando era dirigente sindical: o presidente tem que prender. O presidente não pode prender porque não é o papel dele." Lula destacou que "é importante saber que a questão da corrupção no Brasil não é uma coisa nova". "Quanto mais se combate a corrupção, mais ela aparece na imprensa." Ele argumentou ainda que, quando os escândalos envolvem parlamentares, o próprio Congresso tem mecanismos para fazer as investigações. Lula disse ter conversado com os presidentes da Câmara e do Senado sobre o assunto: "É preciso apurar tudo. Agora, é preciso que a gente tome cuidado para não deixar que o Congresso fique só cuidando disso e não aprove as coisas que têm que ser aprovadas, de interesse do Brasil."

O conteúdo do programa de rádio foi objeto de duas reuniões realizadas no domingo na Granja do Torto. Lula ia gravar o Café com o Presidente de manhã, mas preferiu esperar a repercussão das novas denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). À noite, decidiu que o melhor era apresentar um balanço do trabalho do governo contra a corrupção e reafirmar que todas as suspeitas estão sendo apuradas com empenho.

"Gostaria que um dia o Brasil atingisse o nível que atingiu a Operação Mãos Limpas na Itália. Gostaria, e se depender do meu esforço pessoal vamos aproveitar este momento para fazer as coisas que têm que ser feitas, porque precisamos mostrar que é possível acabar com a corrupção no Brasil", disse. "Neste aspecto, acho que a imprensa joga um papel importante quando publica as coisas."

Lula manifestou indignação com o desvio de dinheiro que deveria estar sendo usado em programas sociais, mas lamentou o fato de que muitas vezes as denúncias são vagas. "Gostaria que as publicações tivessem nomes de pessoas, nomes de empresas porque aí fica muito mais fácil a investigação", afirmou. "Eu sempre acho que quando alguém denuncia alguém, quem tem que provar o que está denunciando é quem está acusando, porque, aí, a Polícia Federal, o Ministério Público têm como investigar mais profundamente."

O presidente reclamou que gostaria de discutir "as coisas boas que estão acontecendo no País, mas a política é feita de coisas boas e de coisas ruins". Lula destacou que a Controladoria-Geral da República tem verificado a aplicação dos recursos repassados pelo governo federal a municípios e Estados, e já encaminhou quase 3 mil pedidos de investigação ao Tribunal de Contas da União. Citou também o trabalho da Polícia Federal: "É importante lembrar que nessas mais de 1.200 prisões que foram feitas e se começou a prender gente da própria PF, da Polícia Rodoviária, políticos, juízes. Ou seja, o combate à corrupção não tem trégua."

Um discurso recente foi lembrado por Lula - aquele feito semana passada, no Fórum de Combate à Corrupção, em Brasília, quando disse que, se necessário, cortará na própria carne: "Sou filho de uma mulher que morreu aos 64 anos analfabeta e ela dizia sempre: o que um homem não pode perder é o direito de andar de cabeça erguida."