Título: Autópsia prova: Terri vegetava
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2005, Vida&, p. A19

A autópsia realizada em Terri Schiavo, a americana com danos cerebrais que teve sua morte autorizada em março pelo marido, Michael Schiavo, fornece evidências de que as alegações dele eram corretas: ela se encontrava em um estado vegetativo persistente, sem nenhuma chance de recuperação, e estava cega. O exame também derruba as acusações feitas pelos pais de Terri, que alegavam abusos cometidos pelo marido. Nenhum sinal foi encontrado no corpo.

O que a autópsia não revela foi a causa do colapso de Terri, 15 anos antes. A teoria mais cogitada era um desequilíbrio de potássio no corpo provocado por uma dieta rigorosa. Contudo, o exame não detectou nenhuma prova de uma desordem alimentar, talvez conseqüência do tratamento de emergência dado logo após o colapso, afirmou o legista-chefe de Pinellas Park, Jon Thogmartin.

O resultado da autópsia foi divulgado ontem, mais de dois meses depois de Terri, então com 41 anos, morrer após uma batalha judicial que durou sete anos entre seu marido - que defendia o fim da vida da mulher - e os pais - que preferiam manter a filha viva com a ajuda de aparelhos. A disputa foi travada em diversos tribunais e envolveu o Congresso Nacional, o Superior Tribunal de Justiça dos Estados Unidos e até o presidente americano, George W. Bush.

Terri morreu de desidratação depois de o tubo que a alimentava ser retirado, em 31 de março. Thogmartin afirmou que ela não sofreu um enfarte e disse não haver evidências do uso de drogas ou qualquer outra substância que a matasse.

O legista também afirma que ela não seria capaz de beber ou engolir qualquer coisa que fosse colocada em sua boca , como seus pais pediram. "A remoção do tubo de alimentação teria resultado em sua morte mesmo que ela fosse alimentada ou hidratada pela boca."

Terri estava cega porque "os centros de visão em seu cérebro estavam mortos" e o órgão tinha cerca de metade do tamanho normal. "O cérebro pesava 615 gramas, quase metade do que é esperado", relatou Thogmartin. "O dano era irreversível e nenhuma terapia teria regenerado a perda maciça de neurônios." A afirmação foi confirmada por outro patologista, Stephen Nelson, que participou do exame. "Ela não seria capaz de formar nenhum pensamento cognitivo", explicou.

O relatório foi baseado em 274 imagens externas e internas do corpo, além de uma análise detalhada de relatórios médicos, policiais e do serviço social.

Em reação ao anúncio, os pais, Bob e Mary Schindler, afirmaram, por intermédio de seu advogado, David Gibbs III, que continuam a acreditar que a filha poderia ter se recuperado. Eles planejam discutir o relatório com outros especialistas médicos e legais. "Estamos, neste ponto, examinando cada opção e nenhuma decisão foi ainda tomada", disse Gibbs.

O advogado de Michael Schiavo, George Felos, afirmou que seu cliente "ficou satisfeito ao escutar" o resultado do exame. "É um fato científico que Terri estava cega", disse Felos. Segundo ele, fotografias da autópsia e do cérebro serão divulgadas em breve. Em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, afirmou que a autópsia não mudou a posição do presidente, que apoiava a decisão dos pais.

A conclusão do exame também acaba com as dúvidas sobre vídeos divulgados pelo casal Schindler, no qual sua filha era mostrada sorrindo e voltando a cabeça para sua mãe. As imagens tiveram grande impacto na opinião pública, porém especialistas diziam que o comportamento não passava de uma reação automática e inconsciente.