Título: Palocci e Lavagna não conseguem ajustar Mercosul
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Economia, p. B5

BUENOS AIRES - Os governos do Brasil e da Argentina não conseguiram chegar a um acordo sobre a criação de um mecanismo que impeça as "assimetrias" comerciais no Mercosul, que a Argentina alega existir. Desta forma, permanece o impasse entre os países, que já dura quase um ano. Ontem, o ministro da Fazenda do Brasil, Antonio Palocci, esteve em Buenos Aires por algumas horas para reunir-se com o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna. O brasileiro tinha a intenção de resolver a divergência antes da realização da cúpula de presidentes e ministros dos países do Mercosul, marcada para os próximos dias 18, 19 e 20, em Assunção, no Paraguai.

O governo argentino insiste há quase um ano na criação de um mecanismo que impeça "assimetrias" comerciais dentro do Mercosul. O sistema - que serviria para evitar eventuais "invasões" de produtos de um país em outro - é uma constante exigência da União Industrial Argentina (UIA), o principal reduto do protecionismo argentino contra o Brasil. A criação deste sistema (que, na versão argentina, poderia ser aplicada de forma unilateral) encontra resistência no governo brasileiro, já que permitiria a existência de mecanismos que feririam o espírito de livre comércio do Mercosul.

As negociações começaram em setembro do ano passado, mas, apesar de diversas reuniões entre representantes dos dois países, ainda não foi encontrada uma solução.

Palocci e Lavagna, entretanto, afirmaram ter havido avanços. "As discussões estão evoluindo muito bem", explicou Palocci, acrescentando que a negociação com a Argentina deveria "significar maiores oportunidades de negócios e uma maior integração".

Lavagna também tentou mostrar-se otimista: "Há 15 dias recebemos comentários por parte do Brasil em um sentido mais convergente. Com o ministro (Palocci), estivemos analisando essa aproximação nas propostas e combinamos uma reunião de nível técnico".

Segundo Lavagna, os mecanismos exigidos pelo governo argentino "não são para gerar barreiras, mas sim, condições de crescimento equilibrado. Trabalhamos com a idéia de expandir o comércio, e não de restringi-lo". Embora não tenham sido divulgados detalhes sobre a proposta discutida, o ministro argentino afirmou que as medidas têm relação com os códigos de conduta em matéria de investimento e com as cláusulas de adaptação competitiva. Contudo, não mostrou certeza sobre a possibilidade de um consenso. Sobre isso, disse apenas: "Não sei, não sei..."

BANCO REGIONAL

Lavagna e Palocci também reuniram-se com o ministro das Finanças da Venezuela, Nelson Merentes, para analisar a possibilidade de criação de um banco regional de investimentos. Antes do encontro dos ministros, circulava em Buenos Aires a especulação de que eles iriam discutir a idéia de fundir o fundo de investimentos da Comunidade Andina (CAF) com o fundo dos países da Bacia do Prata (Fonplata).

No entanto, o ministro Lavagna desestimulou a criação de uma nova instituição financeira na região: "Mais do que planejar novas estruturas, analisamos o funcionamento daquelas que já existem," afirmou. Para Lavagna, no caso de criação de uma nova entidade, no futuro, será preciso que ela surja "com os pés no chão".