Título: Brasil é o 5.º maior destino de investimento têxtil
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Economia, p. B6

O Brasil foi o quinto maior receptor de investimentos estrangeiros diretos no setor têxtil entre 2002 e 2004. De um total de 275 projetos executados nesse período, 12 foram destinados ao País. A China lidera o investimento direto, com 48% do total, seguida da Bulgária (18), dos Estados Unidos (16) e da Hungria (13). Os dados fazem parte do relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) sobre as perspectivas da indústria têxtil mundial com o fim do Acordo sobre Têxteis e Confecções (ATC, da sigla em inglês). Negociado durante a Rodada Uruguai, o acordo determinou o fim gradual das cotas durante dez anos, período que se encerrou em janeiro.

O relatório prevê um aumento do poder das grandes multinacionais do setor têxtil, com a adoção de políticas de economia de escala e a consolidação da produção em grandes fábricas em países economicamente estáveis. Dos 275 investimentos citados, 45% têm origem na União Européia, enquanto 35% partiram da região Ásia-Pacífico, em especial do Japão, Coréia e Malásia.

Enquanto um pequeno número de grandes varejistas com sede nos Estados Unidos, Europa e Japão continua dominando o comércio e os padrões de produção no setor, o relatório chama a atenção para a emergência de multinacionais com sede em países da Ásia oriental que estão expandindo suas linhas de produção com grandes fábricas espalhadas pelo mundo todo, inclusive na África e na América Latina.

Com a remoção das cotas, que limitavam a exportação a grandes centros consumidores como Estados Unidos, Europa e Japão, a competição por investimento estrangeiro direto também tenderá a se acirrar nos próximos anos. De acordo com o relatório, aqueles países que quiserem candidatar-se a receber investimento para se transformar em plataforma de exportação deverão exibir fundamentos econômicos sólidos. "Mão-de-obra barata apenas não será suficiente para atrair investimentos", prevê a Unctad no relatório.

É possível, acredita a Unctad, que haja uma consolidação de produção em fábricas maiores em um número pequeno de localidades. "China e Índia estão em uma posição particularmente forte nessa nova geografia de produção", diz o relatório. Outros fatores, porém, trabalham contra essa tendência de consolidação, pondera o relatório. A proximidade com os mercados consumidores continua sendo importante para algumas categorias de produtos, e alguns produtores já deram sinais de que pretendem manter algumas bases de produção para evitar uma grande dependência em relação a um único país.

A remoção das cotas poderá provocar uma pressão maior em países em desenvolvimento que são altamente dependentes das exportações de têxteis. É o caso de países como Camboja, Haiti, Bangladesh e Paquistão, onde o setor têxtil representa mais de 70% das exportações.