Título: Para Skaf, 'é preciso salvar o ano'
Autor: Para Skaf, 'é preciso salvar o ano'
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2005, Economia, p. B4

A interrupção da alta da taxa básica de juros, depois de nove meses consecutivos de aumentos, foi recebida com certo alívio pelo setor produtivo, mas a medida ainda é considerada insuficiente para motivar a retomada do crescimento mais consistente da economia. Empresários insistem que a única alternativa seria a redução da taxa Selic. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirma que a manutenção da Selic em 19,75% sepulta o primeiro semestre e já ameaça os seis meses restantes."O primeiro semestre já está perdido. Agora é preciso salvar o ano. E isso somente será possível se os juros caírem rapidamente, considerando que o mercado demora a refletir a oscilação das taxas',

Skaf disse esperar que o fato de o Copom ter mantido a Selic inalterada seja o marco de um ciclo descendente, interrompendo-se a escalada da taxa iniciada em setembro do ano passado. Para ele, cogitar um novo aumento dos juros seria uma afronta aos setores produtivos. "Ao invés de juros altos, Brasília deve é reduzir suas despesas, estas sim um elemento de pressão inflacionária".

Para Boris Tabacof, diretor do departamento de economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), a manutenção da taxa Selic pode atrofiar a atividade industrial. Para ele, apesar do momento político, o Copom deve voltar a reduzir a taxa o quanto antes, pois os juros elevados alimentam as incertezas, inibindo os investimentos, que já mostram declínio nos últimos dois trimestres. "Em vez de deprimir o consumo para controlar a inflação, o país precisa expandir a oferta, o que só é possível com investimentos".

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio de Almeida, acha que a decisão vai dar um bom sinal para a economia, apesar de atrasado. "É um sinal que era necessário para tirar um pouco esse clima de desânimo que havia no meio empresarial e que já estava afetando os investimentos".

ELEIÇÕES

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Fabricantes de Autopeças (Sindipeças), Paulo Butori, seria melhor que os juros caíssem, mas a manutenção já é um alívio. Ele acredita que nos próximos três a quatro meses não haverá mudanças na Selic. Só depois desse período começará a cair. "A partir de 2006 as taxas serão mais convenientes, pois o governo estará se preparando para as eleições"

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Ruy de Salles Cunha, comemorou o fim do ciclo de alta dos juros. "Finalmente, foi reconhecido que a inflação está em baixa e não há necessidade de elevação das taxas que influenciam a valorização do real em detrimento dos investimentos na atividade produtiva". Mas ele acrescentou que "o nível continua muito elevado, reduzindo as negociações comerciais, e criando dificuldades para o crédito.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo (Abiesv), Marcos Andrade, embora tardia, a decisão de segurar a taxa básica renova as esperanças do setor varejista para o segundo semestre de 2005. Andrade observou que, se houver reflexo na ponta, ou seja, diminuição das taxas de financiamento no médio prazo, é possível que o desempenho das empresas que fornecem equipamentos para lojas seja melhor do que o inicialmente previsto para este ano.

"Ainda é cedo para qualquer prognóstico, mas o fato é que as sucessivas altas nos juros estavam sufocando a indústria, com expressiva diminuição das encomendas no primeiro quadrimestre deste ano. Agora, esperamos que o cenário possa começar a mudar", afirmou Andrade.

COMÉRCIO

A manutenção da taxa básica de juros em 19,75% ao ano para os próximos 30 dias, decidida ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), muda a expectativa do comércio no sentido de uma futura redução, segundo o superintendente do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo.

Ele ponderou, no entanto, que é preciso avaliar o tom da ata da reunião que sairá nas próximas semanas. "É preciso saber se o tom é otimista de estabilidade para iniciar o processo de redução ou apenas uma parada para tomar fôlego e retomar a trajetória de alta. Eu espero que seja a primeira opção."

Na análise do economista, a decisão do Copom foi correta e coerente com os indicadores de atividade, que mostram desaceleração, e de preços, que indicam inflação em queda. Ele enfatizou que o governo deve começar a reduzir os juros o mais rapidamente possível, para atenuar os efeitos negativos sobre o ritmo de atividade e sobre as iniciativas de deslanchar os projetos de investimento.

Para o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), Abram Szajman, a manutenção da taxa de juros não é suficiente para melhorar o ritmo de crescimento do comércio, dos serviços e da atividade econômica em geral nos próximos meses. Segundo ele, a taxa de juros atual está muito alta e existe um impacto defasado da política monetária na economia real.

"É necessário retomar a trajetória de redução da Selic, o mais rápido possível, para que o setor produtivo possa recobrar o ânimo para investir e gerar emprego e renda. Só assim teremos perspectivas de um cenário melhor para 2006", afirmou o presidente da Fecomercio.

Na avaliação de Szajman, o Banco Central tinha motivos suficientes para iniciar desde agora a redução da Selic. "A queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e dos investimentos indica que é necessário mudar de rota, pois confirma que a dose de juros foi exagerada e o custo social dessa medida está sendo muito elevado."

Ele lembrou ainda que a inflação está em queda, que a inadimplência tem se ampliado com o aumento do crédito sem elevação efetiva da renda, e que a confiança do consumidor vem se reduzindo. "Tudo isso comprova que este modelo de estímulo ao consumo, com base somente no crédito, tem vida curta."