Título: Todos querem tirar fotos do Airbus A-380. Até a Boeing
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Economia, p. B8

PARIS - Um grande avião é um grande avião, não importa quem o fabrique. Assim, quando Alan Mulaly, presidente da Boeing, teve chance de ver o concorrente do seu jumbo, o Airbus A-380, no 46.º Salão Aeronáutico de Paris, aproveitou e tirou uma foto. "É bacana. Quero vê-lo." Muita gente da Boeing tirou fotos ao lado do A-380, o maior avião a jato de passageiros já construído. E, ontem, quando o A-380 decolou, o pavilhão da Boeing se esvaziou. Era o avião do concorrente, mas era um avião afinal de contas. E as pessoas que fabricam aeronaves adoram aeronaves, não importa de quem seja.

Por quatro dias, só a elite da indústria aeronáutica e seus clientes vão ver a grande espetáculo e as exposições, junto com a mídia. No fim de semana, os figurões vão embora e, então, será permitido ao público ver o há de mais moderno no chão e as acrobacias no ar.

A maior personalidade presente ontem foi o presidente Jacques Chirac, da França, o convidado de honra de uma exposição estrelada pelo A-380, que fez seu primeiro vôo há apenas um mês.

As apresentações de aquecimento foram igualmente impressionantes. Caças voaram a grande altura acima, fazendo loopings e mergulhando de nariz, atraindo aplausos e expressões de admiração. Jatos empresariais também fizeram algumas manobras arriscadas embora não sejam autorizados a voar de cabeça para baixo.

Um desses helicópteros era britânico - o EH 101, da Agusta Westland, o helicóptero que surpreendeu a comunidade aeronáutica quando derrotou um concorrente americano na licitação para ser o próximo helicóptero do presidente americano. Enquanto o helicóptero voava de lado, mergulhava de nariz e executava outras acrobacias aéreas, um locutor falava com orgulho da vitória européia e como "os antecedentes de robustez e longo registro de segurança comprovada" o ajudaram a vencer a licitação.

Porém, para ganhar a concorrência, a Agusta foi obrigada a se juntar a uma parceira americana, a Lockheed Martin, a maior fornecedora militar dos EUA. Na realidade, o locutor habilmente tocou numa dura realidade política: "As origens do helicóptero estão na Europa", disse, mas aquele que transportará o presidente "será fabricado no Texas".

A medida que o primeiro dia avançava, os novos convidados para a exposição aeronáutica e muitos dos antigos freqüentadores redescobriram uma das grandes verdades do Salão Aeronáutico de Paris - é tão confuso quanto divertido.