Título: Aviões colocam europeus contra americanos
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Economia, p. B8

GENEBRA - Como em uma guerra de nervos, americanos e europeus impediram que processos fossem instaurados ontem na Organização Mundial do Comércio (OMC) para avaliar os programas de subsídios ao setor aeronáutico. Washington havia pedido a criação de uma arbitragem para julgar o apoio europeu a Airbus. Bruxelas bloqueou o pedido. Durante a mesma reunião, os europeus pediram a abertura de processo contra os subsídios americanos à Boeing, mas a Casa Branca impediu o início da avaliação pelos árbitros internacionais. As iniciativas de bloquear pedidos, porém, não impedirão que os processos sejam estabelecidos. Pelas regras internacionais, se essas queixas forem recolocadas na agenda da OMC, como farão os países no próximo dia 23, os processos são automaticamente aceitos e iniciados.

A queixa americana se refere ao programa de subsídios da Europa para a produção do A350 pela Airbus. O jato competirá com o Americano 787 Dreamliner da Boeing. A embaixadora americana na OMC, Linnet Deily, optou por lembrar que a empresa européia recebe subsídios há 35 anos. São esses recursos, explicou, que possibilitaram à empresa obter mais da metade do mercado mundial de jatos civis, prejudicando as companhias americanas, especialmente a Boeing.

ACORDOS

Já a União Européia acusou os Estados Unidos de manterem de forma ilegal o financiamento da produção de jatos pela Boeing, violando acordos internacionais assinados pelas duas superpotências comerciais. Para Carlo Trojan, embaixador da Europa na OMC, são esses subsídios americanos que distorcem hoje o mercado internacional. Bruxelas lembra que, antes do início da disputa, chegou a propor um corte de 30% nos níveis de subsídios recebidos tanto pela Boeing como pela Airbus, idéia rejeitada pela Casa Branca.

Os europeus ainda alertam que a decisão dos Estados Unidos de levar o caso à OMC pode iniciar "o maior, mais difícil e mais caro contencioso legal da história" da entidade. Washington, ontem, ainda destacou que os europeus teriam usado recursos de contratos militares para financiar os projetos da Airbus, o que foi duramente negado por Bruxelas.