Título: Varig tem até sexta-feira para devolver 11 aviões
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Economia, p. B9

A empresa de leasing americana International Lease Finance Corporation (ILFC), subsidiária da AIG, deu prazo até sexta-feira para a Varig devolver 11 aviões por falta de pagamento. A companhia aérea ainda tenta reverter a decisão, mas fontes na empresa afirmam que não há a menor disposição da ILFC de voltar atrás. "Nem com o depósito dos atrasados", disse uma alta fonte na Varig. A dívida com a ILFC é de US$ 40 milhões. Na semana passada, a ILFC enviou uma carta bastante dura à Varig, reclamando do descumprimento de acordos e da falta de espaço para diálogo. A empresa é a maior financiadora de aviões para a Varig em termos financeiros. Em frota, perde só para a australiana Ansett, que tem 16 aeronaves arrendadas para a Varig.

A Varig tem frota de 84 aeronaves de passageiros e 9 cargueiros. Com 11 aviões a menos, encolheria a oferta de assentos em cerca de 10%. Da frota arrendada pela ILFC, duas aeronaves (Boeing modelo 777) fazem rotas internacionais de longo alcance. Há quatro Boeings 757 usados em rotas regionais na América Latina, e cinco Boeings 737-300 usados em vôos domésticos. Outras três empresas de leasing enviaram diretores ao País e esperam conversar com executivos da Varig esta semana. Todas acompanham de perto os passos da ILFC e as possíveis conseqüências para a operação da Varig.

Se a ILFC se mantiver irredutível, em tese a Varig pode apelar para as vias judiciais e fazer um depósito em juízo - artifício usado com freqüência pelo empresário Wagner Canhedo na Vasp. Com isso, conseguiria manter as aeronaves por mais algum tempo. Mas o artifício só vale para as aeronaves em uso no mercado doméstico.

Os dois Boeings 777 de longo alcance podem ser facilmente apreendidos em aeroportos da Europa e dos EUA. Em janeiro de 2003, a ILFC apreendeu, por 24 horas, um avião da Varig no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, liberado após a regularização do pagamento.

CERCO

Credores públicos da Varig, como Infraero, Petrobrás Distribuidora (BR) e Banco do Brasil (BB), se mantêm irredutíveis em dar mais fôlego para a companhia quitar dívidas. O esperado alongamento de prazos, que teria sido obtido na semana passada, como o presidente do Conselho de Administração da Varig, David Zylbersztajn, chegou a divulgar, não saiu do papel.

Pessoas próximas às negociações garantem que Infraero e BR não concederam prazos maiores. O BB também não teria renegociado a amortização de dívida de US$ 25 milhões, por meio de recebíveis obtidos com receita das vendas de passagens pagas com o cartão de crédito da bandeira Visa. "Foi jogo de cena, para passar a imagem de que as negociações estão fluindo", diz uma fonte.

No caso da Infraero, a Varig continua pagando R$ 1,3 milhão por dia de taxas aeroportuárias para poder voar. Só terá direito a usar cheques pré-datados de 15 dias quando apresentar um plano para quitar R$ 132 milhões cobrados judicialmente. Até agora, a Varig não mostrou como pretende quitar esse débito. Há ainda cerca de R$ 180 milhões securitizados por meio de garantias bancárias.

Com a BR, que na semana passada teria dado até 15 dias à Varig, nada caminhou. Por enquanto, a empresa tem crédito de R$ 40 milhões para comprar combustível para os aviões, valor que pode ser pago em até 10 dias. A Varig pede de 20 a 30 dias e ainda tem de quitar 10 parcelas que somam R$ 53 milhões até maio de 2006. As outras 50 foram pagas em dia.