Título: Mais paises contra têxtis da China
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2005, Economia, p. B12

Alguns dos principais países em desenvolvimento exportadores de produtos têxteis vão à Organização Mundial do Comércio (OMC) pedir que medidas sejam tomadas para que possam conseguir sobreviver diante da concorrência da China. Tunísia, Marrocos, Jordânia e Turquia apresentaram ontem suas idéia iniciais de como deve ser o futuro do comércio de produtos têxteis, enquanto a China, Hong Kong e Índia se declararam contrários à adoção de novas iniciativas para regular o comércio do setor. Apesar da intensidade do debate, o governo brasileiro, pressionado pela indústria nacional para tomar uma posição, preferiu não abrir a boca durante a reunião. As cotas para as exportações chinesas de produtos têxteis acabaram no início do ano, depois de quatro décadas de protecionismo. Há um mês, porém, a reunião regular da OMC para tratar de bens industriais foi suspensa depois que os países árabes pediram a inclusão do tema das exportações têxteis na agenda do encontro. Os chineses se recusaram a aceitar o debate e a reunião foi suspensa. Pequim acabou tendo que aceitar discutir o tema, mas com a condição de que não se tornasse algo institucional dentro da OMC.

Ontem, ao ser retomada a reunião, o governo da Tunísia pediu "medidas urgentes para lidar com o sofrimento causado pela queda nos preços" do setor têxtil. A Jordâia e Marrocos sairam em defesa da proposta, alegando que as exportações chinesas estão tendo um impacto negativo sobre os preços internacionais. Hoje, esses países contam com certas preferências para exportar para o mercado europeu, benefícios que estão desaparecimento com a abertura da economia da União Européia (UE) aos produtos chineses.

Já os turcos prometeram apresentar nos próximos dias uma proposta concreta de como deveriam ser essas medidas para salvar esses tradicionais exportadores de produtos têxteis. Na avaliação do governo turco, a proposta seria uma espécie de programa que poderia ser adotado para evitar o desapacimento de um setor em vários países. A proposta incluiria o aumento da assistência técnica e financiamentos para esses países, além de políticas coerentes entre a OMC, o Banco Mundial e outras instituições.

Na avaliação do governo de Ancara, a competição chinesa ameaça destruir todo seu mercado tracionacional e o fluxo de bens para a Europa, maior comprador dos turcos. Segundo eles, as vendas chineses aumentaram em 73% nos últimos meses, enquanto alguns itens tiveram um crescimento de mais de 500%.

Outro motivo de preocupação é a queda nos preços dos produtos têxteis no mercado europeu. Segundo os turcos, enquanto as vendas de camisetas chinesas cresceram 187%, seu preço caiu em 36%.

As iniciativas dos países que até pouco tempo eram os principais exportadores para o mercado europeu irritaram a China. Segundo Pequim, os preços caíram porque antes estavam distorcidos diante das cotas.

Sobre o aumento das vendas, os chineses alertam que nos últimos dez anos o crescimento de suas exportações foi de apenas 2% ao ano.

Diante dessas argumentos, a China afirmou ser contrária à proposta da Tunísia da adoção de medidas e negou que setor têxtil necessite ser tratado de forma diferente dos demais. Para Pequim, a OMC deve atuar para promover a competição, não para estabilizar preços no mercado. A India também saiu em defesa da China e americanos e europeus prometeram se engajar nesse debate na OMC.

Mudo - Quem ficou calado, porém, foi o Brasil. Por princípio, o País adota a postura chinesa, que não quer novas barrerias a seus produtos.

Brasília estima que esse mesmo problema poderá ocorrer no futuro quando as cotas para as exportações agrícolas forem sendo gradualmente eliminadas. Nesse caso, o Brasil também não aceitará rever as regras para recolocar novas medidas protecionistas. Mas com o setor privado nacional pedindo ações, o governo se encontra em uma posição delicada diante dos chineses. Coincidência ou não, a tática usada ontem pelo Itamaraty foi a de simplesmente não se proununciar sobre o assunto.