Título: Varig joga últimas cartas para tentar manter aviões
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2005, Economia, p. 18

O presidente do conselho administrativo da Varig, David Zylbersztajn, informou ontem em Brasília que as negociações com a empresa International Lease Finance Corporation (ILFC) prosseguem e que há chances de a Varig contornar a exigência de devolução de 11 aviões até amanhã, por falta de pagamento das parcelas do leasing. O executivo manteve ontem sua quarta rodada de discussões com o governo sobre o destino da companhia aérea, desta vez, com o vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal.

"As coisas ainda não estão definidas. Estamos negociando. Existe possibilidade de não termos de entregar as aeronaves", afirmou à imprensa.

Zylbersztajn deixou a vice-presidência alegando que a reunião havia sido "normal", com o objetivo apenas de "atualizar" o governo sobre o andamento das iniciativas para garantir a sobrevivência da Varig.

Questionado se teria apresentado uma proposta de afastamento formal da Fundação Ruben Berta (FRB) do controle societário da companhia área, mostrou-se irritado. "Esta não é uma proposta pessoal nem coletiva. Há disposição da própria fundação em passar o controle acionário da Varig", rebateu.

O Conselho de Administração propôs a reestruturação societária da Varig como forma de possibilitar o ingresso de novos sócios e facilitar as negociações com o governo. A proposta inclui a criação de uma entidade sem fins lucrativos, a "Associação Voa Varig", que exerceria a gestão plena da Varig. Segundo rumores que correm no mercado, Zylbersztajn e os demais conselheiros estariam dispostos a abandonar a Varig caso essa sugestão não seja aceita.

RESISTÊNCIA

Embora não admitam publicamente, as relações entre os novos gestores, liderados por Zylbersztajn, e o Conselho de Curadores da FRB, andam bastante estremecidas. Há uma resistência muito grande em passar o controle, ainda que temporariamente, para o grupo de Zylbersztajn. Até porque, acreditam, não há nenhuma garantia de que isso será suficiente para convencer o governo a fazer um acerto de contas entre as dívidas da companhia e os créditos a que ela tem direito por perdas provocadas por planos econômicos passados.

Há ainda o temor de que, ao assumir o controle, os novos gestores vendam as diversas empresas do grupo em separado. Quando contratou o novo Conselho de Administração, há pouco mais de um mês, a FRB deu carta branca, mas fez algumas exigências. Dentre elas, que o grupo não fosse "retalhado".

Além da resistência dos próprios curadores da fundação, uma decisão dessa magnitude precisará ser aprovada pelo Colégio Deliberante, grupo de 165 funcionários eleitos diretamente por seus pares e que representa a instância máxima de poder dentro da estrutura da fundação. Já há uma movimentação dentro do colégio contrária à proposta.Um segundo empecilho é o Ministério Público de Fundações (MPF) do Rio Grande do Sul. Assim como entrou na Justiça para barrar a fusão Varig-TAM, o MPF pode vir a impedir essa operação.

Segundo procurador do MPF gaúcho, Antônio Carlos de Avelar Bastos, qualquer negociação que venha a modificar o patrimônio de uma fundação tem que passar pelo MPF. "Nossa função é preservar os interesses da fundação, evitar que ela sofra qualquer dano e garantir que a lei seja respeitada."

Bastos não quis comentar a proposta apresentada por Zylbersztajn. "Não tomei conhecimento da extensão da proposta, seria preciso fazer uma análise mais profunda para saber se ela compromete ou não os interesses da fundação", declarou. "Mas o MPF tem poder de veto. Se ele entender que a proposta é danosa à fundação, poderá entrar com ação judicial."