Título: Rebeliões: SP quer Beira-Mar longe
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2005, Metrópole, p. C1

O secretário da Administração Penitenciária do Estado quer o traficante de drogas Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, fora de São Paulo. Sua presença na penitenciária de segurança máxima de Presidente Bernardes - a 30 quilômetros de Presidente Venceslau - há dois anos e meio tem ajudado a aumentar os laços entre o Comando Vermelho (CV), do Rio, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), paulista. "É evidente que, nesse período, ele vem se articulando, fazendo alianças, o que é pernicioso", disse o secretário Nagashi Furukawa.

Neste ano, o PCC e seus aliados do CV já promoveram 7 rebeliões no Estado - em 2004, foram 4 - com 9 mortos. Três foram represálias pelo fato de o governo ter transferido presos antes que o PCC pudesse matá-los. O primeiro caso foi no Centro de Detenção Provisória-2 (CDP-2) de Osasco, em 13 de abril. O PCC destruiu a cadeia porque não matou Cesar Augusto Roris, o Cesinha. No dia 10, no CDP de Praia Grande, quem escapou da facção foi o traficante Ronaldo Duarte Barsotti de Freitas, o Naldinho.

Para Furukawa, é necessário que as autoridades responsáveis pela vinda de Beira-Mar para São Paulo - leia-se Ministério da Justiça - cumpram a palavra. Se isso ocorresse, "essas coisas não estariam acontecendo". O Ministério da Justiça respondeu que a decisão de manter Beira-Mar em São Paulo depende de julgamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A aliança entre o CV e o PCC chegou a tal ponto que a direção do PCC já pode suspender um integrante do CV que tenha cometido uma falha. As suspensões de 90 dias são usadas pelas facções como um aviso "ao irmão" que está pisando na bola. Caso o "errado não fique certo", a direção pode "decretar o patife" ou seja, condená-lo à morte.

Foi isso que aconteceu no caso de Ademir Carlos de Oliveira, o Pezão, chefe do tráfico em São Vicente e Santos e braço direito de Naldinho. Pezão foi suspenso pela nova direção do PCC e "decretado", como seu chefe. Ele e Naldinho foram presos no dia 6. Estavam escondidos dos pistoleiros do PCC.

As duas quadrilhas estão comprando drogas em conjunto, aproveitando sua infra-estrutura para facilitar o transporte e a distribuição nos Estados. É o caso da apreensão nesta semana de 8 toneladas de maconha, pelo Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc).

A droga ia abastecer pontos-de-venda das facções em Santos, São Paulo e Rio. "Como no jogo do bicho, um não pode invadir o território do outro. Se fizer, morre", diz o delegado Everardo Tanganelli, do Denarc.

A polícia descobriu que as facções estão usando os contatos de Beira-Mar para trazer cocaína da Colômbia. O CV entregou ao PCC pontos de droga no Rio, em troca do uso da estrutura logística do PCC e de participação no tráfico em São Paulo.

O PCC comanda a venda de drogas em São Paulo nas Favelas Jardim Elba, Vietnã e Heliópolis, além da Rua dos Estudantes, na Baixada do Glicério. Domina ainda o tráfico em Guarulhos e na Baixada Santista.