Título: Mercado tende a maior volatilidade
Autor: Daniela Milanese, Graziella V. e Silvia Fregoni
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2005, Investimentos, p. H1

O mercado de ações tende a continuar movimentando pregões de elevada volatilidade (bruscas oscilações de preço das ações), por causa principalmente da crise política derivada do escândalo do pagamento de propina nos Correios e de mesada na Câmara. A avaliação é unânime entre especialistas e analistas de mercado, que se dividem apenas quanto ao tempo de duração da crise. Para alguns, ela pode ser esvaziada nos próximos meses enquanto para outros a instabilidade política deve persistir e se estender até as eleições presidenciais de 2006. A avaliação geral é também que os negócios com ações serão influenciados por fatores como taxa de juros, ritmo da atividade econômica e cenário internacional, associado a juros e economia americanos e preços do petróleo (ler ainda reportagem na pág. H5). O executivo da Tesouraria do Standard Bank, Rodrigo Boulos, diz que, ao lado dos desdobramentos da crise política, o investidor deve ficar bastante ligado ao quadro externo, cuja influência tem sido cada vez mais determinante de tendência da bolsa doméstica.

"O cenário externo, com relativo crescimento econômico e inflação contida nos EUA, tende a ser mais benéfico que o interno, dominado por incertezas com a crise política", avalia Mário Carvalho, vice-presidente sênior de Fundos de Investimentos do Banco WestLB do Brasil. Outro fator desfavorável às ações, avalia, é o elevado nível das taxas de juro, com queda na taxa de investimento. "Mesmo que caia, o juro deve continuar em nível elevado, freando o investimento e, sem ele, não há crescimento econômico." Segundo Carvalho, a bolsa poderia ganhar alento no segundo semestre caso o Banco Central inicie a redução dos juros e o cenário político esteja mais bem encaminhado.

O gerente de Renda Variável da Votorantim Asset Management (VAM), Fabio Concilio Cesar, acredita que os balanços de empresas no segundo trimestre devem estampar bons resultados, mas isso, por si, não seria garantia de sustentação dos papéis de empresas com fundamentos positivos, por causa da atuação dos investidores estrangeiros. "Em momentos de grande volatilidade e nos movimentos mais expressivos, a bolsa fica muito dependente da atuação do investidor externo, que não hesita em vender os papéis recomendados pelos bons fundamentos." Essa perspectiva poderia ser reforçada, segundo ele, pela volatilidade do quadro externo e deterioração do cenário político até as eleições.

Há entre analistas os que projetam cenário positivo para o mercado de ações a partir do segundo semestre, desde que não ocorra agravamento da crise política. "Nessa hipótese, o Índice Bovespa (Ibovespa) pode chegar a 30 mil pontos até o fim do ano", prevê Daniel Goraybe, diretor da Accerta Soluções Empresariais. Dá respaldo a essa análise, diz, a perspectiva de que o juro venha a retomar a queda no segundo semestre.

Outra influência positiva pode ser a continuidade de avanço das bolsas americanas, que vêm de dois meses seguidos de valorização, pondera. Goraybe afirma que uma taxa de risco país entre 400 e 500 pontos não deve mudar significativamente o cenário para a bolsa. "Se a crise política passar, o mercado de ações poderá voltar a subir."

A volatilidade não afasta as oportunidades de ganho com ações, sobretudo de segunda linha.