Título: Hora é de sangue-frio para ganhar
Autor: Daniela Milanese, Graziella V. e Silvia Fregoni
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2005, Investimentos, p. H1

O cenário de elevada instabilidade desenhado por analistas para a bolsa nos próximos meses não afasta as oportunidades de ganho com investimento em ações. Os especialistas de mercado destacam a atratividade das aplicações de renda fixa, diante das altas taxas de juro, mas não deixam de apontar também opções na renda variável. A idéia é que a volatilidade será mais acentuada nos papéis de primeira linha, os que são mais facilmente negociáveis em pregão. Daí por que, no investimento direto em ações, são fundamentais a escolha seletiva e do momento mais indicado para a compra. Embora em persistente queda, a expectativa é que as cotações recuem mais, deixando os papéis atraentes para a compra mais à frente.

O analista de investimentos Eduardo Santalúcia comenta que, em momentos de forte incerteza política, as ações de segunda linha se transformam em refúgio de investidores. "O nervosismo de mercado leva os investidores para ativos como as ações de segunda linha, consideradas mais seguras em épocas de crise (ler reportagem da pág. anterior). Uma forma de investir nesses papéis é por meio dos fundos de dividendos.

"Os fundos de dividendos são uma boa opção para o investidor atravessar os próximos 12 a 15 meses com proteção e rentabilidade, porque o processo eleitoral já começou", avalia Santalúcia. Ele diz que o investidor pode procurar um banco, corretora ou administrador e pedir um fundo de dividendos com carteira bastante conservadora. Entre os papéis sugeridos pelo analista estão Vale do Rio Doce e Caemi, cujos preços estão ajustados ao dólar mais baixo e podem beneficiar-se rapidamente com uma reversão de tendência da moeda americana, além de Bradesco e Itaú.

As indicações recaem também sobre papéis de alguns setores específicos. Mário Carvalho, vice-presidente sênior de Fundos de Investimentos do Banco WestLB do Brasil, sugere a compra de papéis de empresas de transporte, Embraer e do setor bancário. Outros, como os de telecomunicações, siderurgia, energia elétrica, papel e celulose, são interessantes, mas a valorização dependerá do ritmo de crescimento econômico, pondera. A compra, de todo modo, deve ser feita em cenário político mais claro.

O executivo Rodrigo Boulos, do Standard Bank, prevê melhora da bolsa em 2006, em um ambiente de juro mais baixo e crescimento mais firme da economia brasileira e mundial. De acordo com ele, vale mais a pena aproveitar o rendimento dos juros altos à espera do momento de compra de ações por preços mais baixos, no fim do ano.

Além da busca de rentabilidade com a valorização das ações, pode-se obter ganho ainda com as distorções criadas pela própria volatilidade. "É possível aproveitar também as oportunidades criadas pelas distorções que a volatilidade gera no mercado", diz Fabio Concilio Cesar, gerente de Renda Variável da Votorantim Asset Management (VAM). "São os fundos de arbitragem e os próprios fundos multimercados."

Para Santalúcia, o investidor pode destinar cerca de 20% dos recursos para a formação de carteira com ações de segunda linha ou o fundo de dividendos. Da parcela restante, ele indica 60% em CDBs com prazo acima de dois anos e juro atrelado à variação do DI e 20% em dólar, ativo que ficou barato.