Título: Madura, bolsa suporta a crise
Autor: Daniela Milanese, Graziella V. e Silvia Fregoni
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2005, Investimentos, p. H1

O mercado de capitais brasileiro está dando um sinal de maturidade ao suportar os solavancos provocados pela atual crise política. Essa é a avaliação do presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Marcelo Trindade, e do presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho. Eles participaram ontem do evento de premiação Destaques Cias Abertas, realizado em São Paulo pela Agência Estado. "O País ficou mais importante que o acidente", disse Trindade. Para ele, um sinal dessa evolução é a continuidade do crescimento das ofertas públicas de títulos e ações. O volume de operações registradas na CVM alcança R$ 32,6 bilhões neste ano, valor que já supera o total de 2004, que foi de R$ 29,9 bilhões.

Magliano acredita que o pregão paulista continua a registrar entrada de capital externo, apesar da crise política, porque os investidores estrangeiros olham o mercado a longo prazo. "Não é um problema pontual que desestimula. Eles sabem que o País tem instituições fortes e fundamentos econômicos sólidos", afirmou. "Começamos a separar o mundo econômico do universo político."

Nos últimos dias, duas empresas conseguiram lançar ações. A TAM levantou R$ 540 milhões e a AES Tietê, R$ 920 milhões. Houve demanda dos investidores pelos papéis de ambas as companhias, ainda que as colocações não tenham saído por preços elevados.

O ressurgimento do mercado como fonte de captação para as empresas começou no ano passado, quando diversas companhias abriram o capital. Mas, apesar das emissões crescentes de ações, hoje as debêntures são o principal instrumento utilizado. Apenas neste primeiro semestre, as emissões desses títulos privados de dívida registradas na CVM já somam R$ 21,7 bilhões, em 31 operações. "É o mercado de capitais cumprindo o seu papel de oferecer crédito mais barato às empresas", disse Trindade.

Para dar continuidade ao fortalecimento do mercado, Magliano defende a privatização de todas as estatais por meio da pulverização do controle com a venda de ações no Novo Mercado, segmento que abriga apenas as companhias com regras mais rígidas de governança corporativa. Para Magliano, o Novo Mercado representa uma blindagem contra a ingerência política. "A privatização e a listagem dessas empresas seriam sinal importante do governo de que elas estariam comprometidas com a transparência e com estratégias claras para o negócio", disse. "Isso deveria acontecer também com o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB)."

O presidente da CVM elogiou a iniciativa de premiar as empresas que apresentam bom desempenho para seus acionistas , reveladas pelo ranking feito em parceria pela Agência Estado e pela empresa de informações financeiras Economática. "Uma das frustrações é que a CVM pune muito e não pode premiar as empresas", brincou . O Ranking AE Economática, com metodologia exclusiva, é feito há cinco anos.

VIVA-VOZ

Magliano anunciou que o pregão viva-voz da Bovespa deixará de existir no segundo semestre. "Gosto de seres humanos, não de máquinas, mas não tem jeito." Segundo ele, as transações no viva-voz estão esvaziadas. Além disso, o ambiente eletrônico é o mais indicado para a negociação de pessoas físicas, um dos focos de atuação da Bovespa, que contratou uma empresa para fazer um projeto de novo pregão eletrônico. A idéia é aproveitar a base eletrônica atual, mas agregar novidades