Título: Casa Civil pediu Abin nos Correios, diz ex-araponga
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2005, Nacional, p. A9

O capitão reformado José Fortuna Neves, da Polícia Militar de Minas, informou ontem, em depoimento na Polícia Federal, que a agência de inteligência do governo, a Abin, estava infiltrada nos Correios desde o final de 2004, a mando da Casa Civil da Presidência da República. Segundo Fortuna, a missão inicial da agência era agir para interromper o contrato com a multinacional Unisys. Ainda segundo o policial, o mesmo tipo de ação foi realizado em outros órgãos da administração federal, entre eles a Previdência Social. Fortuna disse que tomou conhecimento do plano para afastar a Unisys por meio do agente Edgar Lange, o Alemão, chefe da equipe infiltrada nos Correios. Amigo de Alemão desde o tempo em que os dois trabalhavam como arapongas do antigo SNI, Fortuna contou que durante um encontro entre os dois, em fevereiro, Alemão falou sobre o plano da Casa Civil. Em outros dois encontros posteriores, o amigo teria reafirmado a informação.

Baseado neste depoimento, o delegado Luiz Zampronha, encarregado do inquérito do caso Correios, deverá reconvocar Alemão. No primeiro depoimento dele à polícia, uma semana atrás, ele omitiu esses detalhes.

O Ministério Público, por sua vez, requisitou ao ministro-chefe do Gabinete da Segurança Institucional, general Jorge Félix, a apresentação de todos os relatórios, informações e dados em poder da Abin sobre a operação nos Correios. A agência é subordinada a Félix que, segundo a investigação da PF, teria conhecimento das atividades dos agentes infiltrados.

Esta é a segunda vez que o MP tenta obter o material em poder da Abin. Na primeira, o diretor-geral da instituição, Mauro Marcelo, não atendeu. Desta vez, o pedido foi dirigido ao ministro.

EM BUSCA DE FRAUDES

Segundo informações da Abin, a ordem para investigar a Unisys partiu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após tomar conhecimento de um relatório do Ministério da Previdência Social que apontava a multinacional como co-responsável por fraudes no sistema de arrecadação e de benefícios. A Unisys é responsável pela segurança do sistema, que, segundo o relatório, era violado com facilidade pelos fraudadores.

A Unisys não quis comentar o assunto. A empresa tem contratos com vários órgãos federais, num total estimado em R$ 2 bilhões. Só nos Correios chegam a R$ 188 milhões. Um deles, citado por Fortuna, é orçado em R$ 114 milhões anuais e refere-se ao Terminal de Acesso Público à Internet (Tapi).

Segundo a assessoria dos Correios e Telégrafos, esse serviço foi contratado por meio licitação e integra e faz parte do programa federal de inclusão digital.