Título: Péres tem certeza de que Lula sabia do mensalão
Autor: Cida Fontes, Guilherme Evelin, Fabíola Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2005, Nacional, p. A10

Senador sugere providências contra presidente se ficar evidenciada prevaricação

O senador Jefferson Péres (PDT-AM), integrante da CPI dos Correios, defendeu ontem que a comissão investigue as denúncias de compra de apoio de parlamentares no Congresso e se presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia e agiu contra o mensalão. De sua parte, o senador está convicto de que o presidente foi conivente. "Não acho que o presidente Lula seja capaz de um ato desonesto, no sentido de enriquecer ilicitamente. Agora que ele sabia, com certeza sabia", afirmou o senador, para quem Lula "foi conivente, prevaricou, com certeza". "Se ficar evidenciado que o presidente realmente sabia e não tomou providências, não podemos, em nome da estabilidade, fingir que não sabemos e ficar de braços cruzados, senão nós que é estaremos prevaricando também", declarou em entrevista à Agência Estado.

Para o senador do PDT, "ninguém, só quem acredita em Papai Noel, pode imaginar que José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil), com o senhor Delúbio (Soares, tesoureiro do PT), amigos, companheiros de partido, que há muitos anos acompanham o presidente da República, tenham feito tudo isso com o seu desconhecimento. E ficou comprovado, ou há fortes indícios de que ele sabia".

Péres também não deixou de manifestar preocupação com desdobramentos da crise. "Receio uma crise institucional decorrente de um processo de impeachment, que seria o caso, pois pode levar o País a uma instabilidade muito grande", afirmou. Péres, que participou da CPI do Banestado, explicou que, para ser comprovada, a corrupção não exige que surjam documentos. "Provas são provas. Há provas documentais, técnicas, periciais e testemunhais. Se a testemunha for idônea, se o seu depoimento for convincente, a testemunha vale também, é uma prova.

ELEIÇÕES

Na avaliação do Péres, a atual crise política e seus desdobramentos podem abrir caminho para novos nomes nas eleições de 2006. "O povo está desanimado, não acredita mais em ninguém", afirmou o pedetista. "Mas mesmo sem entusiasmo, mesmo sem ir para as ruas, pode fazer uma opção por uma alternativa a essa dualidade 'tucanato-petismo'".