Título: EUA querem só mais Japão e Índia no conselho da ONU
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2005, Nacional, p. A18

Numa decisão que tornou mais distante a realização do principal objetivo da política externa do governo Lula, os EUA anunciaram ontem que querem limitar a "dois ou algo assim" o número de novos membros permanentes do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas. Washington informou que condicionará mesmo essa modesta expansão do principal foro político da organização a uma reforma profunda de várias instâncias da ONU, a começar pela Comissão de Direitos Humanos. Uma ampliação maior, como a que reivindicam conjuntamente Brasil, Alemanha, Japão e Índia, seria "possivelmente prejudicial à eficácia do CS e não seria um passo sábio ou pragmático", disse o subsecretário de Estado para assuntos políticos, Nicholas Burns. Ele antecipou a notícia ao governo brasileiro na noite de quarta, num telefonema ao embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur. O embaixador disse ontem ao Estado que agradeceu o gesto de cortesia de Burns , mas disse-lhe que o governo brasileiro lamentava a decisão e que ela seria mal recebida em Brasília e teria repercussões negativas.

A secretária de Estado, Condoleezza Rice, conversou sobre o tema com o chanceler Celso Amorim na manhã de ontem, depois de uma conferência telefônica que tiveram, com ministros de outros países, para discutir a situação do Haiti. Antes de conversar com Amorim, Condoleezza telefonou a seu colega do Japão, Yuriko Kawaguchi, e reiterou o apoio de Washington à ascensão do Japão do CS a um lugar permanente, mas sem direito a veto, como têm os cinco membros com cadeira cativa no conselho: EUA, China, Rússia, França e Inglaterra. Burns informou ainda que os EUA estão dispostos a respaldar a inclusão de mais três membros não permanentes aos dez que ocupam cadeiras no órgão, com mandatos de dois anos.

Os EUA já tinham tornado pública sua oposição à ascensão da Alemanha ao CS. Burns adiantou os critérios que, segundo os EUA, devem orientar a escolha dos novos membros permanentes do CS: importância econômica do país e seu aporte financeiro para a ONU; extensão territorial e tamanho da população; poderio militar e capacidade potencial de contribuir com soldados e dinheiro para missões de paz da ONU; compromisso com a democracia, os direitos humanos, a não proliferação nuclear e a luta contra o terrorismo; tudo guiado pela preocupação de alcançar o equilíbrio geográfico. Sob tais critérios, a Índia seria o segundo candidato dos EUA a membro permanente. Uma eventual terceira vaga seria destinada ao continente africano, que abriga 53 países e precisa ser contemplado, porque tem votos suficientes para bloquear qualquer proposta de reforma na assembléia geral de mais 190 países.

Para alguns analistas, o efeito prático da proposta americana será dificultar a reforma do CS, de uma maneira apenas um pouco mais jeitosa do que os chineses. Determinado a impedir o acesso do Japão a uma cadeira permanente, por razões históricas ligadas à invasão e ocupação da Mandchúria pelos japoneses na primeira metade do século passado, e de poder, o governo de Pequim recentemente condenou a proposta de reforma apresentada conjuntamente pelo Brasil, Alemanha, Japão e Índia, no mês passado.