Título: O Brasil está diante de uma grande mentira
Autor: José Genoino
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Espaço Aberto, p. A2

O PT e alguns de seus dirigentes, entre os quais me incluo, estão diante de uma campanha que visa a condená-los política e moralmente sem fatos, sem provas, sem defesa e sem julgamento. Esta campanha não pode ser aceita. Afirmo de forma categórica, com a consciência de todos os riscos que esta afirmação possa conter, que o Brasil está diante de uma grande mentira, contida nas falsas acusações que o deputado Roberto Jefferson vem proferindo contra o PT e seus dirigentes. Acredito que, neste momento de confusão, que se assemelha a uma noite em que todos os gatos parecem ser pardos, seria conveniente que, diante da falta de critérios para julgar, as pessoas tomassem, ao menos por um instante, o critério da história para julgar os atores e os fatos políticos. Nós, do PT, construímos uma história de 25 anos de lutas e de compromissos, de condutas e de valores.

História construída antes de chegarmos ao poder e que queremos e lutaremos para que ela se continue propagando indefinidamente pelo futuro. Não seria a circunstância de termos chegado ao poder que faria com que abandonássemos esta história de lutas e compromissos. Na democracia, o poder é passageiro. Valores, lutas e compromissos são permanentes.

Por isso, não aceitamos falsas acusações que visam a desconstruir nossa história e destruir nossa reputação política e moral. Estamos sendo acusados por uma mentira que procuram legitimar como verdade e por um réu que procura assumir a condição de juiz. Fortes indícios, tornados públicos nas últimas semanas, vinculam o nome do deputado Roberto Jefferson a improbidades nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil.

Ao contrário da impunidade que grassava em tempos passados, os instrumentos de investigação do Estado agiram com presteza no caso dos Correios e de outras denúncias. A Polícia Federal adotou todas as medidas possíveis sem protelação e prendeu várias pessoas envolvidas no escândalo. Ao se dar conta de que no governo Lula não vigora a impunidade, nem mesmo em relação a aliados, Roberto Jefferson, num ato de desespero e vingança, decidiu, sem responsabilidade alguma, mergulhar o Brasil numa crise para tentar se salvar. Decidiu promover um festival de falsas acusações.

Diante do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados e de todo o Brasil confessou ter mentido para salvaguardar seus interesses políticos e pessoais. Confessou que concedeu as entrevistas acusadoras contra o PT depois de sentir que seus interesses não seriam satisfeitos e que as investigações sobre a corrupção nos Correios iriam até o fim. É com estas credenciais e com estas confissões que pretende tornar-se promotor de acusação contra o PT, seu juiz e seu algoz.

Outros setores políticos se aproveitam desta cortina de fumaça para tentar auferir dividendos políticos. Aproveitam-se deste momento de confusão para tentar inviabilizar o PT como alternativa de esquerda. Querem bloquear o processo de transformação em curso porque sentem que seus privilégios históricos estão sendo questionados por um governo democrático, que promove a inclusão social, amplia a cidadania, resgata o emprego, a dignidade e o crescimento econômico.

O ardil que usam para tentar destruir um projeto político de transformação do Brasil consiste numa investida para destruir reputações políticas e morais de integrantes do governo e de dirigentes petistas sem apresentar fatos, sem provas e sem cerimônias.

Fatos e episódios soltos estão sendo amarrados para construir uma lógica de culpados, sem que os autores destas lógicas sintam um mínimo de culpa na consciência. Histórias fantasiosas de malas cheias de dinheiro circulando por Brasília e pelo Brasil são tidas como verdadeiras. Querem transformar as vítimas de uma mentira criminosa em culpados.

As forças conservadoras viram na confusão criada por Roberto Jefferson a oportunidade para sair ao sol visando a bloquear e derrotar o projeto de transformação, modernização e moralização do Brasil. A forma como tentam viabilizar esta destruição não poderia ser mais vingativa e cruel.

Procuram condenar o PT por aquilo que ele tem em mais alta conta, por aquilo que foi e é o seu mais alto compromisso, por aquilo que lhe é irrenunciável: a defesa da ética na política e o compromisso de combate à corrupção. Esta vingança das forças conservadoras não visa apenas a derrotar o PT politicamente. Visa a desmoralizá-lo perante a opinião pública.

Não podemos aceitar que o Brasil seja transformado numa grande Escola Base política. Na condição de indignados diante desta imensa farsa, que procuram legitimar como verdadeira, desafiamos o senhor Roberto Jefferson ou qualquer outra pessoa a apresentar provas, fitas, gravações, testemunhas, documentos, estratos bancários para comprovar a veracidade das acusações.

Não tememos comparecer diante da CPI ou de qualquer outro órgão de investigação porque nada temos a temer e nada temos a esconder.

Não podemos permitir que acusações inverídicas se tornem sentenças, que acusadores movidos pelo desejo de vingança e pelo desejo de destruir se tornem juízes e algozes. Não podemos permitir que se instaure no Brasil um processo de prejulgamento político e moral, sustentado na mentira disseminada irresponsavelmente.

Confiamos que as instituições democráticas esclareçam os fatos e restaurem a verdade. Resgatar a nossa dignidade e reafirmar os valores históricos do PT passa a ser, neste momento, nosso compromisso maior, pois são uma história de lutas e princípios e uma alternativa de mudanças que estão sendo postas à prova.

José Genoino é presidente do PT