Título: Dirceu acusa `elites¿ de complô para desestabilizar o governo
Autor: Mariana Caetano, Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Nacional, p. A4

Em reunião a portas fechadas com o Campo Majoritário do PT, grupo que abriga a ala moderada do partido, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu acusou a existência de um ¿complô das elites¿ para desestabilizar o governo, defendeu o PMDB como parceiro preferencial para a eleição de 2006 e, mais uma vez, criticou a política econômica. ¿Estamos vivendo uma luta de classes. Estão fazendo tudo para nos desestabilizar.¿ Encabeçada pela volta do ex-ministro à Câmara, o PT deu largada à ofensiva para atuar contra a oposição e garantir a sustentação ao governo. A linha é não deixar nenhum ataque sem resposta e preservar o patrimônio ético da legenda.

Com um discurso inflamado, Dirceu foi aplaudido duas vezes durante os 20 minutos em que falou para a platéia de petistas. Citou a oposição ¿ especialmente PFL e PSDB ¿, aliada ao setor financeiro, como a principal articuladora do que chamou de ¿conspiração¿ contra o partido e o governo. O complô, na sua avaliação, teria como objetivo impedir a reeleição do presidente Lula, em 2006.

¿Estou pronto para a guerra¿, avisou, ao destacar que vai defender a bandeira ética do PT, desgastada depois das denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Embora tenha elogiado os resultados do governo, Dirceu retomou os ataques à política econômica capitaneada pelo ministro Antonio Palocci. Insistiu que os juros não podem continuar altos porque inviabilizam o crescimento e a geração de emprego e renda. Além disso, atacou novamente o superávit primário, a economia para o pagamento dos juros da dívida.

O ex-ministro previu dificuldades pela frente, com problemas na base de sustentação do governo, e por isso defendeu o aumento do espaço do PMDB na equipe. ¿O Brasil precisa de alianças com base na agenda de interesses políticos e estratégicos que estão em curso no governo e no Congresso¿, afirmou o presidente do partido, José Genoino. Diante de companheiros do partido que presidiu durante 8 anos ¿ de 1995 a 2002 ¿, Dirceu procurou demonstrar ânimo. ¿Finalmente vou fazer o que sempre gostei¿, falou, ao lembrar que, a partir de agora, voltará para o ringue político. Depois, repetiu a frase que disse quando entregou o cargo, na quinta-feira: ¿A luta continua.¿

AUTONOMIA

Na reunião de hoje do diretório nacional ¿ convocada de última hora para tentar unificar a reação da sigla às acusações de corrupção ¿ o Campo Majoritário vai defender maior autonomia do partido em relação ao governo. Também deve pedir que o presidente e o governo ouçam mais o PT. Especialmente diante da perspectiva de que o espaço do partido no ministério pode diminuir e o presidente levar adiante a idéia de consolidar um governo de coalizão.

Recomendar mudanças radicais na política econômica e na política de alianças, como quer a esquerda do partido, está fora de cogitação. De qualquer forma, o ânimo da maioria petista é, aos poucos, desbloquear parte das críticas à condução do governo. Sem tumulto, o partido quer deixar clara sua identidade, que nem sempre é a mesma da administração federal. Mesmo entre os moderados, há muitos insatisfeitos com o próprio Lula, que não teria defendido o PT como deveria.