Título: Dirceu ameaça: 'Estão brincando com fogo'
Autor: Ana Paula Scinocca, Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Nacional, p. A7

Em ato de desagravo convocado pelo PT por causa das denúncias de corrupção, o ex-ministro José Dirceu radicalizou a retórica e atribuiu às elites, aos partidos de oposição e à imprensa um movimento de desestabilização do governo Lula e de desconstrução da imagem do partido. "As forças políticas e sociais conservadoras e da direita representadas pelo PFL e pelo PSDB estão brincando com fogo", disse Dirceu, em discurso para 2 mil militantes e na presença de 15 ministros de Estado, governadores, prefeitos e intelectuais ligados à legenda. Convocou-os para a guerra política."Ninguém aqui vai dormir com o inimigo. Todo mundo sabe quem é o inimigo e sabe quem são os amigos. Aqui ninguém tem propensão para recuar." Dirceu cobrou unidade do partido e conclamou os movimentos sociais a irem às ruas para defender o governo Lula desse suposto movimento de desestabilização e discutir uma correção de rumos. Ressalvou que essa mobilização deverá ocorrer dentro das regras da democracia. "Vamos fazer atos nas ruas, nas praças públicas, fábricas, escolas, assentamentos. Quero convocar em nome do PT todas as forças políticas e sociais, não só para defender o governo, mas para discutir os rumos", afirmou o ex-ministro, ovacionado pela militância aos gritos de "Dirceu é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo". O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o secretário-geral, Sílvio Pereira, também participaram do ato. Não tiveram os nomes anunciados pelo mestre-de-cerimônias, o ator Sérgio Mamberti, mas receberam apoio. Delúbio subiu ao palco fazendo V de vitória.

Ao falar sobre as denúncias que o vincularam ao suposto esquema do mensalão, Dirceu disparou críticas a vários órgãos de imprensa. "É uma campanha difamatória, infame", disse. Um dos veículos citados por Dirceu foi o Estado, em razão da reportagem publicada na edição de ontem sobre a denúncia de oferta de R$ 4 milhões do PT ao PPS para apoiar a ex-prefeita Marta Suplicy. "Quem pode aceitar que um jornal com a responsabilidade de O Estado de S. Paulo publique a matéria que publicou hoje (ontem), nos acusando de tentar comprar outro partido? Depois de duas horas, tudo está desmentido. E é matéria de primeira página", afirmou o ex-ministro.

Dirceu atacou também as revistas Veja e IstoÉ Dinheiro e ironizou as pesquisas encomendadas para avaliar a popularidade do governo Lula. "Fazem 30 dias de matéria contra o governo e fazem pesquisa. E perdem a pesquisa", provocou. Apesar disso, segundo o ex-chefe da Casa Civil, não se pode subestimar os "nossos erros e a força da oposição porque eles podem inverter a situação". Ele reconheceu ainda que o governo cometeu "erros gravíssimos no Congresso".

Segundo Dirceu, o governo tem sido alvo das denúncias de corrupção porque "não compactuou com as tentativas de aparelhar órgãos públicos ou estatais para roubar". As acusações, de acordo com o ex-ministro, estão relacionadas também com o fato de que o governo Lula seria representativo das forças políticas nacionalistas.

"O que está em jogo não é a minha biografia, a minha imagem, mas a nossa história", afirmou Dirceu, no discurso em que falou de improviso, mas seguiu um roteiro. "Nós sempre estivemos na bancada daqueles que lutam contra a corrupção, nas ruas e nas CPIs. E aqueles que tentam nos acusar estavam nos bancos dos réus ou apoiando os que assaltaram o País", disse, sem se referir a seu acusador, Roberto Jefferson.