Título: FHC diz que mensalão é 'invenção contemporânea'
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Nacional, p. A10

O presidente Fernando Henrique Cardoso classificou o mensalão como "uma invenção contemporânea", lembrando que nunca houve "qualquer tipo de prática similar no Brasil". Em palestra que fez em Joinville, ele cobrou que as graves denúncias feitas nos últimos dias têm de ser apuradas: "Está pairando no ar uma dúvida que vai diretamente ao coração da credibilidade do sistema político. Isso tem de ser apurado", disse. Ele ressalvou que, ao fazer essa advertência, não queria pressupor a implicação do governo ou do PT. "Digo que eles têm de apurar", observou.

FHC assegurou que não há risco de crise institucional: "A atual crise não é institucional: as instituições não estão em perigo. Mas é necessário investigar, apurar, responsabilizar os envolvidos", indicou.

Bem humorado, ele causou risos ao comentar a intenção do PT em investigar as suspeitas de compra de votos, em 1997, para aprovar o projeto da reeleição. "Uma coisa não tem nada haver com a outra. (Na época) O PT e o malufismo tentaram tumultuar a questão porque, é claro, eram contrários. Agora, querer misturar essa história de mensalão comigo, é um pouco de exagero. Mensalão? Deus me livre. Esconjuro", disse entre risos.

FHC disse que quando estava na presidência não impedia CPIs: "Eu impedi infâmias. O caso Eduardo Jorge, por exemplo, foi uma infâmia, não houve nada", disse.

REELEIÇÃO

Em entrevista ao programa Atenção Brasil, da Rádio Cultura de São Paulo, FHC disse que "a posição do presidente Lula não é boa, ele pode vir a perder a reeleição". Para ele, ainda muito longe da eleição Lula "já está sendo levado ao segundo turno por vários candidatos, com diferenças mínimas", afirmou. Para ele, foi o governo que antecipou a campanha: "Depois que antecipa, não tem como parar".

Em Joinville, FHC não quis comentar a demissão do ex-ministro José Dirceu, mas permitiu-se uma ironia fina. Aproveitou o tema do seminário onde falava para comentar - em tese, alertou -o dilema de um presidente que tem de demitir um ministro. "Eu sei que ele (ministro) não fez nada intencionalmente para me prejudicar e tento preservá-lo. Mas a situação está insustentável e a opinião pública está insatisfeita. O que estou fazendo, na verdade, é fritar esse ministro. Então, moral da história, é melhor demitir logo", exemplificou.

FHC evitou comparar as crises dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Melo não ganharam respaldo nas palavras de FHC. O ex-presidente observou que as suspeitas contra Collor eram pontuais. A atual suspeita de corrupção envolve diferentes segmentos administrativos. "As suspeitas não atingem Luiz Inácio Lula da Silva", sentenciou. Ele acha que a atual crise terá solução mais adiante. "Havendo liderança, encontra-se a saída".