Título: Inpa quer incentivar cientista empreendedor
Autor: Liège Albuquerque
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2005, Vida&, p. A23

MANAUS - São somente três projetos patenteados entre milhares de pesquisas desenvolvidas em 50 anos de existência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). No aniversário do instituto, em 27 de julho, a comemoração passa pela criação de uma política mais intensa para estimular o registro intelectual do que produzem os 216 cientistas nas mais diversas áreas: da invenção de um novo tipo de granola de pupunha, a pupurola, até sofisticados estudos sobre os impactos do desmatamento no caminho do gasoduto Coari-Manaus. "É necessário criar uma postura de cientista empreendedor, que use a ciência também como negócio e não só faça pesquisa pelo interesse de publicação", destaca a chefe da Divisão de Propriedade Intelectual e Negócios do Inpa, Noélia Lúcia Simões. Nos próximos dois anos, ainda na estratégia de expandir a ciência para fora dos muros do instituto, aumentando a interação dos cientistas com a população, o Inpa deve inaugurar três atrações ambiciosas: um aquário, um borboletário e um biotério, todos abertos à visitação. Os três projetos, que somam cerca de R$ 2,5 milhões, ainda estão à espera de liberação de verbas, já que o orçamento do governo federal para a pesquisa no instituto não é dos mais generosos.

De acordo com Noélia Lúcia, o orçamento do Inpa deste ano é de R$ 19 milhões, a maior parte para pagamento de pessoal e material de trabalho. "Para pesquisa mesmo, só R$ 3 milhões. O grande mérito para tocarem as pesquisas está no interesse das instituições de fomento aos trabalhos desenvolvidos pelos cientistas do Inpa", destaca.

As instituições de fomento, como a Capes, o CNPq e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), colaboram juntas com mais de R$ 10 milhões anuais às pesquisas. Segundo o diretor do instituto, José Antônio Alves Gomes, hoje o Inpa não conta nem com 2% de financiamento internacional às pesquisas. "Estamos dando preferência ao financiamento nacional, mas os cientistas ficam livres para conseguir financiamentos fora do País, desde que a administração seja avisada."

PATENTES

Já há 21 projetos na fila em busca de patentes, sob responsabilidade de um escritório no Rio. Quatro desses projetos são sigilosos pelo ineditismo. "Nos últimos três meses houve uma mudança de mentalidade dos pesquisadores e alguns já não estão esperando que nós os procuremos para divulgar e nos procuram para registrar seus trabalhos", conta Noélia Lúcia.

Os três inventos patenteados pelo Inpa são um secador solar de madeiras, patenteado em 2000; o processo de aproveitamento do caule da pupunheira para móveis, em 2001; e outro secador solar para madeira e sementes, em 2002.

Dos 17 outros projetos não sigilosos à espera do aval do patenteamento, a pesquisadora destaca um processo de curtume dos peixes amazônicos para fins comerciais, as fórmulas de cosméticos com óleo de palmeiras como o buriti e a pupunha e até arcos para instrumentos musicais feitos com o caule da pupunheira. "Os pesquisadores defendem que os arcos com a pupunheira ajudam a produzir um som muito melhor do que os arcos chineses usados habitualmente", diz.