Título: Em breve, um curso superior em cachaça
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2005, Vida&, p. A21

BELO HORIZONTE - A fabricação artesanal de aguardente de cana-de-açúcar na cidade de Salinas (MG) - que reivindica o título de capital mundial da cachaça de alambique - vai ganhar impulso a partir de agosto, quando começa o inédito curso de graduação de tecnologia em produção de cachaça. O curso será implantado pela Escola Agrotécnica Federal (EAF) de Salinas. A autorização foi dada pela portaria nº 4.243 do Ministério da Educação, publicada no dia 22 de dezembro do ano passado. As inscrições para o vestibular terminam na quinta-feira e o processo seletivo está previsto para julho. Devem ser abertas 30 vagas no período da manhã.

Com duração mínima de três anos, o curso vai formar tecnólogos para atender às demandas locais, regionais e nacionais. Os alunos serão capacitados para atuar em todos os setores da cadeia produtiva da cachaça de alambique, da produção da cana até o engarrafamento da bebida.

A grade curricular prevê 32 disciplinas, que irão abordar desde o processo de fermentação, destilação e envelhecimento da bebida genuinamente brasileira, até análises físico-químicas e sensoriais para o controle de sua qualidade. Serão ministradas ainda atividades que visam à preservação ecológica do meio ambiente e à identificação e à aplicação de técnicas mercadológicas para a distribuição e comercialização do produto.

"É o que precisávamos para consolidar a marca de principal região produtora de cachaça de qualidade do Brasil", observou Oscar Willian Barbosa, coordenador do curso e diretor-geral substituto da EAF no município do norte de Minas.

Em novembro de 2004, uma comissão designada pelo MEC emitiu, após processo de análise e verificação, parecer favorável ao funcionamento do curso superior - considerado o primeiro do mundo. A EAF de Salinas recebeu o conceito "A". De acordo com o MEC, o corpo docente é composto por especialistas, mestres e doutores.

REVOLUÇÃO

A novidade animou os produtores da cidade, de 36,7 mil habitantes, que ganhou fama por abrigar a Fazenda Havana, onde é produzida a Anísio Santiago (antiga Havana), a mais famosa e cobiçada cachaça artesanal brasileira.

A engenheira agrônoma das marcas Seleta e Boazinha - cuja produção anual chega a 1,5 milhão de litros -, Cristiane Corrêa Costa, de 26 anos, decidiu concorrer a uma vaga no curso. "Não existe nada que fale sobre cachaça, não existe literatura nenhuma", observa. Segundo ela, até o proprietário da fábrica, Antônio Eustáquio Rodrigues, de 68 anos, há 40 produzindo cachaça, está disposto a encarar o vestibular. "Ele respira cachaça. Esse curso vai ser uma revolução na vida dele."

A partir da década de 1970, a produção de aguardente artesanal na cidade de Salinas ganhou força e hoje está substituindo a pecuária de corte como principal atividade rural da região. O município mineiro tem atualmente cerca de 50 marcas registradas.