Título: 'Dirceu é o chefe do esquema de corrupção'
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Nacional, p. A17

No dia seguinte ao anúncio da demissão do ministro José Dirceu, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) fez seu ataque mais direto e contundente contra o adversário: "É o chefe do maior esquema de corrupção que vi nos últimos anos". Em entrevista na chegada para reunião do diretório nacional de seu partido, Jefferson negou ter comemorado a queda de Dirceu, mas se disse preparado para o confronto na Câmara, quando o ministro reassumir o mandato de deputado federal. "Vou enfrentá-lo", desafiou. Mais uma vez, o petebista poupou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Uma coisa me deixa tranqüilo: o presidente Lula é um homem de mãos limpas, um homem honrado", afirmou. Mais tarde, em discurso, provocou Dirceu, ao prometer apoio a Lula: "Já que o escorpião saiu das nossas costas, vamos ajudá-los a fazer a travessia". Antes, elogiara apenas quatro ministros do governo: Antonio Palocci (Fazenda) - "um gigante" -, Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Roberto Rodrigues (Agricultura) e o petebista Walfrido Mares Guia (Turismo). "E paro por aí." Ao falar sobre futuros depoimentos no Congresso, Jefferson fez nova provocação a Dirceu e a dirigentes petistas que acusa de corrupção: "Na CPI dos Correios, eu vou ver o José Dirceu sentado ao meu lado. Ele, Delúbio Soares, Silvinho Pereira, sentadinhos do meu lado, desencravando unhas, como eles gostam de falar". Na terça-feira, em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, Jefferson pediu a saída do ministro, para não transformar Lula em "réu".

Fotografado quando gargalhava ao telefone na noite de quinta-feira, pouco depois de Dirceu anunciar sua demissão, Jefferson disse que falava com o neto Bernardo, que completava 1 ano e balbuciava as primeiras palavras. "Não é costume meu sorrir da desgraça de ninguém, debochar da derrota de ninguém. Não rio do mal." Ele disse ter certeza de que todos os seus telefonemas estão sendo gravados pela Agência Brasileira de Informação (Abin) que, segundo ele, comprovaria que não houve qualquer referência à demissão de Dirceu na ligação. "A Abin pode mostrar que eu não me regozijei da tragédia pessoal ou da desgraça de alguém."

Os ataques a Dirceu se estenderam ao governo, ao PT, à Polícia Federal, que chamou de "polícia política", ao Ministério Público e à imprensa. Jefferson demonstrou ressentimento especial com os petistas - que, segundo ele, sempre tiveram "vergonha" do apoio do PTB. "Não é nosso povo, não é nossa gente, não é vinho da nossa pipa. Pensaram que os homens de nosso partido eram de aluguel, que o PTB fosse um exército de mercenários, um lupanar, como outros dois são", atacou, referindo-se ao PL e ao PP.

Jefferson criticou o PT e o governo por "não terem projeto político, mas apenas projeto de poder". "Aí é fácil que a coisa descaminhe para este desvão a que o Brasil está assistindo agora. É um discurso não socialista, mas socialisteiro." Jefferson disse que foi "o último" líder do PTB a aceitar o apoio ao PT.

O deputado reiterou a denúncia de mensalão. "Sou deputado federal desde o presidente José Sarney e nunca se ousou fazer da Câmara um valhacouto de malandros a extorquir dinheiro do Executivo."

Jefferson disse ter informações de que a corrupção se estende aos legislativos estaduais e municipais, mas não fez novas denúncias. "Já vi o escândalo se estendendo a outros Estados e outras cidades. O PTB cometeu o erro de denunciar isso insistentemente. Várias vezes falei ao chefe da Casa Civil, contei a autoridades do governo até que tive oportunidade de falar ao presidente da República. A partir daí começou o inferno do PTB."