Título: 'Se o governo não deixar investigar, quem periga é ele'
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2005, Nacional, p. A9

BRASÍLIA - Aliado fiel do governo, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) assumiu a relatoria da recém-criada Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios com a preocupação de afastar as especulações de que vai proteger o Planalto. "Já saio com o carimbo de chapa-branca e isso não é verdade", reclama. "Se o governo não deixar investigar até as últimas conseqüências, quem periga é ele." Aos 57 anos, Serraglio está em seu segundo mandato e, na Câmara, é considerado metódico e detalhista. Advogado e professor de Direito Administrativo da Universidade Paranaense, conquistou seu primeiro mandato eletivo em 1993, como vice-prefeito de Umuarama (PR), onde concentra até hoje a maior parte de seus votos. Derrotado neste ano na disputa por uma vaga para o Tribunal de Contas da União (TCU), Serraglio diz ser um legítimo integrante do baixo clero parlamentar. Como o sr. se sente diante das acusações de que vai proteger o governo na CPI dos Correios?

I njustiçado, porque não corresponde a realidade. É uma elucubração. Por mais que eu vá trabalhar, já saio com o carimbo de chapa-branca e isso não é verdade. Vamos proceder de forma profunda. Se o governo não deixar investigar até as últimas conseqüências, quem periga é ele.

Há mais de cem requerimentos apresentados por parlamentares convocando autoridades para depor na CPI. Como o senhor fará a triagem desses pedidos?

Ainda não analisei esses requerimentos. Sei que há muitos repetidos. A consultoria da CPI vai classificar esses pedidos para depois eu conferir. Não existe possibilidade de você falar que alguma pessoa não vai ser chamada. Só o presidente da República. Tirando o presidente da República, a CPI tem competência para exigir a presença de quem quer que seja .

Há requerimentos para convocar o ex-ministro José Dirceu. Quando ele será chamado para depor na CPI dos Correios?

Não temos, até o momento, nenhuma prova produzida para ficar falando que vamos tomar tal atitude. Qualquer ministro pode ser chamado. Mas agora não tenho prova nenhuma. Como é que vou chamar José Dirceu? Ele (José Dirceu) pode entrar na Justiça e dizer que nós (CPI) estamos exorbitando. Tem de ter fundamentação. Todo mundo quer saber se José Dirceu virá ou não. Ele virá, se necessário. A CPI não tem restrições.

As primeiras convocações serão limitadas aos envolvidos nas denúncias de corrupção nos Correios?

Exatamente. Nós não vamos abafar nada. Nada de abafa, mas também nada de circo. Não é porque alguém quer ver o fulano sentado na CPI que nós vamos fazer. Independentemente de quem quer que seja. É preciso ter a imparcialidade necessária e o senso crítico de saber quando você precisa chamar alguém para depor para a instrução do processo. Precisou para a instrução, não tem abafa. A população pode ficar convicta de que a intenção é atuar com seriedade e ir às últimas conseqüências.

E se aparecerem indícios durante as investigações que levem a outros escândalos, como o pagamento de mesada a parlamentares?

É a primeira vez que estou numa CPI. Meu raciocínio é muito jurídico. Sou professor de faculdade, atuo como advogado. Tenho de mandar abrir um outro inquérito porque é uma outra história. Como a legislação que disciplina a CPI diz que, nos casos omissos, aplica-se o Código de Processo Penal, o meu raciocínio é que, se for constatado isso e não for do âmbito da CPI, tem de levar para quem for competente para investigar. É bom que se perceba que está prestes a ser instalada uma CPI do Mensalão.

O sr. acha que foi escolhido relator da CPI dos Correios como uma forma de ser compensado pelo Planalto por ter sido derrotado na disputa por uma vaga no TCU?

Com certeza não. Não foi o governo que me deu nada. Devo essa indicação ao PMDB e ao líder do partido pela confiança que ele tem em mim.

Qual é sua relação com o presidente Lula e o ex-ministro Dirceu?

Lula é um cometa para nós, deputados. Encontrei com Zé Dirceu no máximo cinco vezes na vida e ele nunca me telefonou. Dá a impressão que tenho alguma dependência em relação a Zé Dirceu. Mas me tragam um só deputado que tenha sido abordado por Zé Dirceu ou por um emissário dele para pedir voto para mim para o TCU. Achem um deputado que tenha tido uma sinalização que era para votar em mim.

Nas últimas eleições, o sr. apoiou o filho do ex-ministro da Casa Civil, Zeca Dirceu, para a prefeitura de Cruzeiro do Oeste, cidade da sua região.

Apoiei. Sou deputado do PMDB da região. Sou o deputado mais votado em Cruzeiro do Oeste, onde competi inclusive com ele nas eleições de 2002. Zeca foi candidato a deputado federal. Foi meu adversário. Naquela eleição de prefeito, o PMDB de lá decidiu apoiá-lo. Mas fui a apenas um comício dele, onde não falei. Nunca fiz campanha de rua para ele, nunca fiz nada.