Título: Para Marinho, briga levou PT a fazer gravação
Autor: Fernando Dantas,Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Nacional, p. A18

Um mês depois de ter se transformado no personagem central do escândalo de corrupção que está sacudindo a República, o ex-chefe do Departamento de Compras e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho decidiu afirmar que teria sido apenas "boi de piranha" de um esquema de espionagem política motivada por uma briga de bastidores entre a Casa Civil do governo e os partidos da base aliada. A finalidade seria afastar o PTB da área dos Correios, minando a influência do deputado Roberto Jefferson. Pela versão de Marinho, o PT, monitorado pelo secretário-geral do partido, Silvio Pereira, estaria por trás da gravação da fita - em que ele mesmo aparece revelando um suposto esquema - para afastar o PTB dos Correios.

Marinho disse ao Estado que o empresário Artur Wascheck, que confessou ter encomendado a gravação, é apenas parte de um elo da conspiração. Ele disse que os dois arapongas que fizeram a gravação teriam sido orientados "por gente de dentro dos Correios" e, embora não tenha provas, cita como possível envolvido o ex-diretor de Tecnologia do órgão, Eduardo Medeiros, funcionário de carreira, ligado ao PT e promovido ao cargo por indicação de Silvio - o provável elo com a Casa Civil, do ex-ministro José Dirceu.

Por trás do homem que aparece como mandante, existiriam pelo menos outras duas pessoas - entre elas Medeiros. A Polícia Federal (PF) também suspeita que há pelo menos um outro mandante da gravação acima de Washeck.

Convocado para prestar depoimento à CPI dos Correios, na próxima terça, Marinho tentará explicar o mistério em torno de um dos arapongas que participaram da gravação, o homem que se apresentou com o nome falso de Vitor, cuja identidade a polícia divulgou como sendo João Carlos Mancuso Vilela. "O estranho é que até agora a PF não tenha chamado meu cliente para fazer o reconhecimento oficial dos presos para identificar os dois homens que estiveram em sua sala", diz o advogado Sebastião Coelho da Silva, para quem, aí estaria a chave do mistério em torno do caso.

Marinho afirma que o araponga que se apresentou a ele com o falso nome de Goldman é o empresário Joel dos Santos Filho, preso e já libertado. Mas acha que o outro, identificado pela polícia como Vilela, não é o homem que se apresentou em sua sala como Vitor.

A suspeita levantada por Marinho vai em duas linhas: o autor da gravação seria o oficial da Marinha aposentado Arlindo Molina ou um araponga da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), cuja identidade, para preservar o governo de envolvimento com o submundo da espionagem política, estaria sendo mantida em sigilo.

DECISÕES

"Eu não tomava qualquer decisão sobre licitação e contratos. As decisões eram solidárias e dos diretores", diz, ao lembrar que nos 45 dias de duração dos contatos com os arapongas, havia um roteiro de perguntas e assuntos que só quem conhecia os Correios por dentro poderia ter fornecido. No depoimento da terça, Marinho vai detalhar o organograma da diretoria para mostrar quais eram as influências políticas. Segundo ele, o PTB tinha apenas uma diretoria, a de Administração, chefiada pelo ex-deputado Antônio Osório Batista. A presidência pertencia ao PMDB (João Henrique); as diretorias de Tecnologia (Eduardo Medeiros) e Operação (Maurício Coelho Madureira ), ao PT; a de Recursos Humanos (Robson Cury, suplente do senador Nei Suassuna), Comercial (Carlos Eduardo Fioravante, suplente do senador Hélio Costa) e Financeira (Ricardo Cadah), ao PMDB.