Título: Delcídio 'ocupa' área de estatal com amigos
Autor: Fabiana Cimieri
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2005, Nacional, p. A8

RIO - Apesar das reservas de caráter técnico ao grupo que trabalhou com o senador Delcídio Amaral na diretoria de Gás e Energia da estatal, seus principais ex-auxiliares foram bem instalados na BR Distribuidora. Além do atual presidente da subsidiária, Luiz Rodolfo Landim, que era gerente-executivo do Gás Natural e diretamente ligado a Amaral, seus subordinados foram levados para a distribuidora. Entre eles, o ex-diretor de Estratégia, Avaliação Empresarial e Serviços do Gás Natural, Nelson Guitti Guimarães. Atualmente, ele é o diretor financeiro e de Serviços. Outro é Rogério Castello Branco, ex-gerente de Contratação e Serviços do Gás Natural e que agora é gerente-executivo da área de equipamentos da BR.

A eles são atribuídos contratos com empresas prestadoras de serviços para criar empregos terceirizados para pessoas indicadas por políticos que financiam o grupo. Os dois também são protagonistas de um caso que ganhou repercussão dentro da estatal: a simulação da transferência de uma funcionária de Brasília para o Rio para que ela recebesse um adicional de transferência sobre o salário na época em que estavam no Gás Natural.

A história foi relatada recentemente num boletim do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, área da Bacia de Campos, com base em e-mails trocados pelos executivos em fevereiro de 2002. Nas conversas eles manifestam o risco da operação. Um deles chega a classificá-la como "batom na cueca", para dizer que, dependendo do procedimento, não escaparia de auditoria.

A fictícia transferência da geóloga Dayse Lúcide André de Nora Souto foi pedida por Landim em março. Em abril, ele pediu o pagamento, à geóloga, do Adicional Provisório e de Transferência, por causa de sua nova transferência para Brasília, conforme mostram documentos internos da empresa obtidos pelo Estado.

AMIGO DE SEVERINO

Outro ex-subordinado de Landim e Amaral que encontrou abrigo na Petrobrás é Djalma Rodrigues, o homem que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), queria ver na diretoria "que fura poço", a poderosa diretoria de Exploração e Produção da estatal.

Rodrigues foi gerente de Distribuição do Gás Natural na gestão passada. Cotado várias vezes para a diretoria de Gás e Energia da Petrobrás, lugar que foi de Delcídio e que atualmente é ocupado por Ildo Sauer, Rodrigues foi acomodado na diretoria da subsidiária Petroquisa.

Além de afilhado do PP, o pernambucano Rodrigues tem bom trânsito entre deputados das bancadas nordestinas do PMDB e PFL e também no PT. No último dia 9 de maio, o engenheiro recebeu a medalha Tiradentes, honraria concedida pela Assembléia Legislativa do Rio, em sessão solene promovida pelo deputado Gilberto Palmares, presidente regional do PT.

O loteamento de cargos, que se repete nas estatais com a desconsideração do desempenho em funções anteriores e atributos técnicos, tem causado mal-estar entre os funcionários de carreira da Petrobrás. Mesmo entre os que são funcionários antigos da empresa só ocupam cargos de confiança na estatal aqueles que têm boas amizades e sustentação política.