Título: Secretário petista é acusado de uso da máquina na INB
Autor: Fabiana Cimieri
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2005, Nacional, p. A8

RIO - O secretário de Comunicação Social do PT, Marcelo Sereno, é acusado pelo ex- superintendente de Administração das Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) e conselheiro do Núcleos - instituto de seguridade da estatal -, Neildo de Souza Jorge, de uso da máquina pública. De acordo com Neildo, Sereno - que com o secretário-executivo do partido, Silvio Pereira, e o tesoureiro, Delúbio Soares, forma o tripé de ação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu - faz uso rotineiro de carro e motorista da estatal. Ele teria ainda colocado na folha de pagamento um funcionário fantasma, Rosalvo Costa Correia, segundo Neildo, contratado como coordenador de Ação Comunitária por R$ 10 mil por mês. O Estado deixou recado na secretária eletrônica de Correia, mas ele não ligou de volta. De acordo com Neildo, Sereno é o responsável pela indicação do presidente das INB, Luiz Carlos Vieira, e do presidente do Núcleos, Paulo Figueiredo, transferido em abril para a presidência da Eletronuclear. Ele e Sereno, segundo Neildo, articularam nomes para a diretoria do instituto. Ex-chefe de gabinete e ex-chefe da assessoria especial da Casa Civil, Sereno foi afastado em 2004, depois que o ex-secretário nacional de Segurança Luiz Eduardo Soares disse que ele sabia das atividades ilícitas do ex-assessor Waldomiro Diniz. Mesmo sem cargo, Sereno não deixou de circular pelo Planalto. Uma de suas funções é analisar currículos de indicados políticos a cargos públicos. Outra é coordenar campanhas de petistas e aliados no Rio, além de se preparar para lançar candidatura a deputado federal.

"Sereno manda nas INB", diz Neildo que, depoi s de 21 anos como funcionário das INB e após ter chegado ao posto de superintendente administrativo, foi demitido no dia 1.º de junho por justa causa. Ele teria fraudado um documento de reintegração de um funcionário que brigava há oito anos na Justiça. Ele nega. Diz que cumpriu uma determinação judicial e que a causa da demissão foi denunciar, desde novembro, "no mínimo a má gestão" do Núcleos. Enquanto o rendimento médio dos fundos de pensão das estatais foi de 16,5% em 2004, o Núcleos conseguiu apenas 5,9%. O prejuízo foi de, pelo menos, R$ 22 milhões. O diretor financeiro do fundo, Gildásio Amado Filho, justificou a má performance como uma "dificuldade de agir diante das crises que nos levaram à modificação da carteira". Neildo diz que desde o ano passado tenta obter documentos que justifiquem esses rendimentos, mas que "estão sonegando informações". Como diretor do Sindicato dos Trabalhadores Químicos do Sul Fluminense, Neildo diz que já denunciou o caso à Secretaria de Previdência Complementar e que pedirá uma auditoria ao Ministério Público. Ele entrou com uma ação contra sua demissão.

Através de sua assessoria, Marcelo Sereno negou ter feito qualquer indicação nas INB e afirmou que Rosalvo foi indicado pelos deputados federais Paulo Baltazar e Alexandre Cardoso, do PSB. Cardoso nega: "Não conheço e nunca ouvi falar nesse nome." Baltazar não foi encontrado. Para Sereno, a acusação de Neildo é "vingança", por sua demissão. Também nega ter usado carro da empresa. Rosalvo concorda com Sereno sobre a motivação do ex-superintendente. Também nega que Sereno tenha ingerência nas INB. O presidente Vieira teria sido escolhido pela experiência no ramo de mineração na Vale do Rio Doce, além de ter o apoio dos sindicatos. A amizade com Sereno teria servido apenas para que seu nome não fosse vetado pela Casa Civil. A diretoria da estatal, subordinada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, teria sido indicada, de acordo com Rosalvo, pelos deputados do PSB no Rio, Baltazar e Cardoso. Mais uma vez, Cardoso nega e Baltazar não foi encontrado. Ex-dirigente, militante e fundador do PT, Rosalvo se prontificou a apresentar seu contra-cheque de R$ 2.400, quantia que afirma receber das INB, negando ganhar R$ 10 mil. "Sou o único petista na empresa", disse ele, acrescentando que, no governo Lula, apenas oito, dos cerca de 800 funcionários, são indicações políticas. Rosalvo confirmou que não vai todo dia à empresa. Disse que o trabalho de coordenador de ação social é na rua, junto a prefeitos e ONGs: "Não sou pessoa de bater cartão, mas na própria sexta estava fechando um convênio com Furnas e com a Eletrobrás."