Título: 'Cada um de nós votou em um candidato diferente'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Internacional, p. A20

Alguns eleitores apoiavam um ex-presidente, pela sua experiência, outros queriam um reformista com idéias novas e outros diziam que não fazia sentido ir às urnas porque a presidência do Irã não tem poderes suficientes para fazer mudanças. Em Karaj, cidade industrial a oeste de Teerã, a eleição presidencial parecia demonstrar que iriam se confirmar as previsões de que a votação de ontem seria das mais acirradas desde a Revolução Islâmica (1979). Parado na porta da seção eleitoral, com um grupo de amigos, Davoud Mohammadi, de 50 anos, comentou: "Não vou dizer em quem eu votei. Mas cada um de nós votou em um candidato diferente."

Outro eleitor, Javad Kolaei, disse ter escolhido o reformista Mustafá Moin, um ex-ministro da Educação disposto a desafiar alguns dos princípios do sistema teocrático do Irã. Mas sua mulher, que não disse o nome, afirmou ter votado no conservador Akbar Hashemi Rafsanjani, clérigo moderado que presidiu o país de 1989 a 1997 e se gaba de ter ligações estreitas com o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, que tem a palavra final em todos os assuntos do Estado. "Ele já foi presidente. Quanto a um novato, quando puder fazer algo, já estará no fim do mandato", disse ela, que vestia o tradicional chador.

Já a loja de Ali Akbar Fayezi estava repleta de pôsteres de Ali Larijani, candidato dos ultraconservadores. "Ele vai fazer o que promete", disse Fayezi. Larijani é um linha-dura, contrário a reformas para democratizar as instituições. Mas as pesquisas mostravam pouco apoio para Larijani e outros ultraconservadores.

Alguns iranianos em Karaj, em particular os jovens que procuram emprego, disseram não ver razão para votar, já que o atual presidente, Mohamad Khatami, obteve uma votação esmagadora em 1997 e 2001 e não conseguiu cumprir suas promessas de reformas democráticas. "O que aconteceu da última vez? Votamos e de nada adiantou. Nada fazem pela classe trabalhadora", disse Keshakr Baqeri, de 27 anos, que tem um emprego temporário numa fábrica.