Título: Lula fará reforma ministerial modesta para evitar paralisia
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2005, Nacional, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará uma reforma ministerial mais modesta do que gostaria para evitar a paralisia do governo. Em conversas reservadas, nos últimos dias, Lula avaliou que a relação custo-benefício de uma mudança ampla na equipe não seria satisfatória, no atual cenário, porque a temperatura da crise política permanece alta. "Temos de trocar a roda com o carro andando, mas sem correr riscos", afirmou o presidente durante reunião com 16 ministros, há quatro dias. Em seguida, ele recomendou cautela. "Não fiquem agindo como se houvesse um problema dentro do governo. A situação é grave, porque neste momento estamos sob ataque, mas vamos trabalhar e tocar a vida para a frente."

Para dar mais eficiência administrativa ao governo, Lula pretende juntar projetos de infra-estrutura - atualmente espalhados em várias pastas - no Ministério do Planejamento, hoje comandado por Paulo Bernardo. De qualquer forma, ainda não bateu o martelo sobre o assunto. A idéia do presidente é concentrar tarefas.

Além disso, ele não deve mais extinguir secretarias como a da Mulher e a da Igualdade Racial. "Para quê? O custo delas é muito pequeno e enfrentaríamos um desgaste muito grande com os movimentos sociais nessa hora de crise", admitiu um interlocutor de Lula. A revisão da rota traçada anteriormente reforça a premissa inicial: num cenário de turbulência, quanto menos confronto, melhor.

Idealizado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para ser o "núcleo duro" da gestão, o grupo de conselheiros do governo também acabou esvaziado ao longo de dois anos e meio de mandato e deve ser "repaginado" porque virou terreno fértil para o fogo amigo, numa queda-de-braço entre desenvolvimentistas e monetaristas. Sem Dirceu e com a planejada extinção da Coordenação Política - comandada por Aldo Rebelo -, o futuro do núcleo que foi sem nunca ter sido estratégico é incerto.

Se todos os problemas fossem esses, já seriam muitos. Mas como juntar os cacos da base de sustentação do governo? O presidente vive um dilema: quer fortalecer o poder do PMDB na Esplanada, mas não pode chutar para escanteio o PTB, o PP e o PL - as "más companhias" mencionadas pelo ministro das Cidades, Olívio Dutra, quando foram divulgadas as denúncias sobre o pagamento de "mensalão" a deputados. Com a transferência da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, para a Casa Civil - praticamente certa - é provável que sua vaga fique com o PMDB.

Com a convicção de que a reforma ministerial precisará ser mais restrita, Lula também revê os planos de despachar antecipadamente para o Congresso os ministros que são parlamentares e desejam se candidatar às eleições de 2006 - sendo obrigados, portanto, a deixar os cargos até 30 de abril.

NOVA FASE

Na prática, o presidente quer iniciar uma nova fase da administração e buscar uma marca para o seu governo fora do terreno econômico. Para tanto, precisa mexer na área social. É provável que o ministro da Saúde, Humberto Costa, seja substituído.