Título: OMS desenvolve programas contra maus-tratos a idosos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Vida&, p. A26

Segundo a agência da ONU, 10% das pessoas com mais de 60 anos sofrem abusos.

Um fenômeno preocupante tem acompanhado o envelhecimento populacional: o aumento do número de abusos de idosos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 10% dos indivíduos acima de 60 anos são, hoje, alvo de sérios problemas de maus-tratos e violações dos mais diversos tipos, sejam físicos, psicológicos, sexuais, legais ou financeiros. Para enfrentar a situação, a entidade está desenvolvendo três programas paralelos, visando, por exemplo, à preparação dos profissionais da área básica de saúde para o atendimento de um grupo que, em 2050, será formado por 2 bilhões de pessoas. Convidado para o 18º Congresso Mundial de Gerontologia, a ser aberto na semana que vem no Rio, e onde os programas serão apresentados, o diretor de Envelhecimento e Saúde da OMS, Alexandre Kalache, chama a atenção para a necessidade de encarar o problema. "Os maus-tratos e o abuso do idoso é uma questão que nos preocupa imensamente. É um aspecto feio sobre o qual as sociedades não gostam de falar. É preciso uma resposta global contra isso", diz o médico, em entrevista ao Estado, de Genebra.

Para ajudar a tirar a sujeira debaixo do tapete, a OMS iniciou um levantamento em dez países, entre eles Brasil, Inglaterra e Canadá, ouvindo grupos de idosos. "Coisas importantes começaram a ser reveladas a partir daí. Ele valoriza tanto o abuso físico como o verbal", diz, citando ainda relatos de agressões associadas ao sexo. A humilhação sofrida por pessoas que já não podem se locomover sozinhas também foi um ponto muito destacado na pesquisa, intitulada Vozes Silenciosas. "São pessoas que acabam sendo esquecidas em camas, cadeiras de rodas, sem banho, sem alimentação."

A pesquisa, segundo Kalache, mostra que "nenhuma sociedade está imune, nem o Japão", onde velhice é sinônimo de sabedoria. Para ele, essa situação é fruto da desvalorização da cultura do respeito, associada a falhas na educação. "É preciso divulgar a mensagem de que o idoso, por sua idade, merece atenção especial."

Para fazer que o problema seja detectado e tratado, a OMS desenvolveu um módulo de treinamento para os profissionais que atuam em postos de saúde e nos programas de saúde da família, já que são eles que fazem o contato inicial com o paciente.

A iniciativa prevê ainda a aplicação de um questionário de cinco perguntas para detectar a possibilidade de abuso sexual. Em caso de suspeita, o paciente é encaminhado para o serviço social. A metodologia já foi testada na Costa Rica e o questionário, adotado em oito países. "A ferramenta de triagem detecta duas vezes mais casos de abuso do que nos casos em que não é aplicada."