Título: Desertos avançam e ameaçam 2 bilhões
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Internacional, p. A29

A desertificação ameaça o estilo de vida de milhões de pessoas em todo o mundo nas próximas décadas, sugere um relatório divulgado ontem por um grupo internacional de cientistas. O documento, parte da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, reúne informações sobre as regiões secas no planeta. Cerca de 2 bilhões de pessoas - aproximadamente um terço da população mundial - moram em regiões com tais características climáticas, principalmente na faixa que cobre o norte da África até o centro asiático. O crescimento populacional, a expansão agrícola e o uso inadequado das técnicas de irrigação têm provocado um processo de desertificação, que "cresceu como um problema global que afeta todo mundo", afirma o autor principal do relatório, Zafar Adeel, da Universidade das Nações Unidas.

O aquecimento global e o acúmulo de gases que provocam o efeito estufa, como o dióxido de carbono, devem acelerar a ação nas próximas décadas ao provocar mais secas, enchentes e ondas de calor.

Para as Nações Unidas, desertificação significa uma degradação da terra em estados árido, semi-árido ou seco. Esta seria a conseqüência inicial, com grande impacto, das mudanças climáticas e das ações humanas e atingirá principalmente os grupos mais pobres, que avançam sobre as regiões secas em busca de moradia e condições básicas de vida, indica o relatório.

Além da perda de recursos naturais, desertificação também significa um provável aumento de problemas de saúde ligados à poeira, à redução da produção agrícola e à pobreza.

Durante a temporada seca, o pó pode causar problemas respiratórios e irritação nos olhos. Além disso, tempestades de areia, que alcançam quilômetros de distância de seu ponto de origem, devem aumentar.

Os cientistas calculam que 1 bilhão de toneladas de poeira podem sair do Deserto do Saara todo o ano e espalhar-se pelo globo. Outro exemplo é a areia do Deserto de Gobi, na Mongólia, que afetaria a população do Japão. O problema, lembra Adel, não são apenas as partículas em si, mas também fungos, bactérias e pesticidas carregados junto. O grupo diz que ações de abrandamento precisam ser tomadas imediatamente, como melhor gerenciamento de plantações, irrigação cuidadosa e formulação de políticas de controle populacional.

A Avaliação Ecossistêmica do Milênio reúne análises de 1.300 especialistas em 95 países.