Título: Para Lacerda
Autor: Ubiratan Brasil
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2005, Caderno 2, p. D1

(Eu) soube que numa carta ao Mário (de Andrade) você havia se queixado de estar muito chateado (de um modo geral), chateado do Rio, da vida, etc. Como não tenho intimidade com o Mário (que não gosta de mim, nem eu dele, embora sejamos cordiais nas mesas ocasionais de chope), não quis perguntar nada a ele e preferi escrever a você. (...) Rasguei sua longa e amiga carta porque estou criando um grande horror a cartas, uma espécie de ojeriza ao papel escrito onde ficam gravadas coisas com referências a terceiros, mesmo quando são coisas inocentes. (De Rubem Braga, provavelmente de 1940)

Esta vai em papel de desenho e a lápis. Você não repara porque estou me utilizando de material de minha profissão. E agora ao principal: Não fui à sua conferência, primeiro porque não há motivo para eu me interessar vivamente por questões econômicas do Brasil; segundo porque estando com Lúcia e Ziloca na sala e não seria bem ficar vexado entre as duas.

(De Di Cavalcanti, 21 de outubro de 1947)

A indiferença, o comodismo, as ambições, a inveja e a simples malícia vêm-me causando danos terríveis, antes de ordem psíquica do que eleitoral. Mas, prossigo até onde as forças e as paciência me permitam.

(De Jânio Quadros, 24 de março de 1960)

Lemos seu artigo sobre Romeu e Julieta quando chegamos ao Spence's Point. Imediatamente fomos ver o filme, que estava passando em Baltimore. Como você disse, um filme magnífico que deu uma nova dimensão a uma história simples de Shakespeare. Os italianos ainda estão no primeiro time em matéria de cinema.

(De John Dos Passos, 12 de março de 1969)

A afirmação de que "não gosto de você" seria pelo menos exagerada, se não fosse, como é, totalmente errada. Ninguém é indiferente ao "chameur" irresistível que você é; mesmo os que dizem detestá-lo, no fundo, gostam de você, gostam pelo avesso, mas gostam.

(De Carlos Drummond de Andrade, 25 de dezembro de 1975)

De Lacerda Quando eu combatia o imperialismo americano, você nem sabia o que era isso. Agora é que você descobriu, para o efeito de condenar os que trabalham, como eu esse imperialismo, precisamente no momento que o inimigo não é este ou outro imperialismo, mas sim a força nazista, interna e externa!

(Para Mário de Andrade, 11 de outubro de 1941)

Não sei como poderia atacar o fascismo hoje se não combatesse igualmente o Partido Comunista, que de todos os inimigos da liberdade e da dignidade do homem é aquele que mais poder iminente apresenta aqui.

(Para Heráclito Sobral Pinto, 28 de maio de 1947)

Creio na sinceridade e patriotismo da sua intenção, ainda que V. Excia., pelo visto, não creia no meu, pois tratou-me com se eu fosse um político visando fins particulares e não os mesmos que motivaram o movimento militar. Preciso lembrar a V. Excia. que enquanto o Exército não podia agir, suportei a responsabilidade e o peso da corrupção e do comunismo, e às vezes quase só.

(Para o marechal Costa e Silva, então ministro da Guerra, 4 de abril de 1964)

Se considero justo o temor que existe no seu governo de ver derrotada a revolução nas eleições parciais de 1965, não duvido quanto à nossa vitória na eleição presidencial de 1966. A não ser que, a pretexto de união nacional, o governo de V. Excia. viesse a se engajar contra mim, com um candidato divisionista, o que não creio, pois, sem beneficiar o país, seria uma injustiça, e o povo não gosta de injustos. (...) Considero necessário acrescentar este esclarecimento: em 1966 levarei a democracia a juntar-se com a revolução, promovendo pelo voto do povo a transformação do país. Completaremos assim a revolução iniciada e bastante comprometida pela intriga e a perplexidade; e a submissão aos que se apossaram dela para realizar objetivos pessoais.

(Ao presidente Castello Branco, 9 de fevereiro de 1965)

Sua carta me devolveu um tempo - depois ferido e pisado - em que as pessoas se encontravam no mesmo apreço por uma criação da inteligência, pelo que por alguma razão lhes parecia digno de respeito e de estímulo. (...)

(Para Carlos Drummond, 31 de dezembro de 1976)