Título: PT contraria Lula e preserva Delúbio e Silvio Pereira na cúpula
Autor: Vera Rosa, Fausto Macedo e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2005, Nacional, p. A4

A cúpula do PT decidiu ontem blindar o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e o secretário-geral, Silvio Pereira, indo na contramão das orientações do Palácio do Planalto. Em reunião do diretório nacional do partido, o assunto foi exaustivamente discutido, mas não chegou sequer a ser posto em votação nem a fazer parte da resolução produzida no fim do encontro. Mesmo assim, o campo majoritário - que reúne a ala moderada do partido - sentiu o golpe. Foram necessárias 9 horas de reunião. Em discursos feitos a portas fechadas, dirigentes de facções de esquerda e do centro no espectro ideológico petista defenderam publicamente o afastamento de Delúbio e Silvio. Os dois integram o campo majoritário e foram acusados pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de envolvimento no escândalo do "mensalão".

O acordo para não submeter os dois companheiros a um "julgamento político" dentro do partido já havia sido costurado na sexta-feira entre os moderados. Mas ainda precisava passar pelo crivo de todos os membros do diretório. Apesar do desmentido oficial, o presidente do PT, José Genoino, já vinha ameaçando renunciar ao cargo, em conversas reservadas, desde a semana passada, caso o PT cedesse às pressões e pusesse a cabeça dos dois dirigentes a prêmio.

Genoino ficou muito contrariado e deprimido com as pressões que vinha recebendo para o afastamento de Delúbio e Silvio, principalmente por parte do Planalto. Foi então que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu fez com ele uma dobradinha para defender que a "guilhotina" não fosse a voto.

Na noite de ontem, o presidente do PT negou em nota que tivesse cogitado a possibilidade de renunciar ao cargo se o partido decidisse jogar Delúbio e Silvio às feras. "Minhas testemunhas são todos os companheiros e companheiras participantes desse rico e fraterno debate político que só revela a grandeza do partido que tenho a honra de liderar", escreveu.

Antes, porém, perguntado sobre as divergências em torno do afastamento, foi taxativo: "Não vamos expor para os adversários brigas internas de caráter pessoal." Candidata a disputar o comando do PT com Genoino e outros cinco candidatos, em setembro, a deputada Maria do Rosário (RS) afirmou que vários petistas tentaram ontem "sensibilizar" Delúbio e Silvio para que refletissem sobre a possibilidade de, "mesmo sendo inocentes", entregarem os cargos, para não prejudicar o partido e o governo. O senador Eduardo Suplicy (SP) chegou a sugerir licença remunerada, mas a proposta não foi aprovada. Delúbio garantiu aos companheiros que não queria ficar na Secretaria de Finanças do PT depois da posse de Lula. "Eu queria ir para o governo, mas Lula não deixou", disse. Na sua vez de falar, Silvio Pereira mostrou mágoa com o tratamento recebido por parte dos companheiros que chegaram a duvidar dele. Disse que "nunca" teve salinha ao lado do gabinete da Casa Civil, como acusou Jefferson, para despachar sobre cargos. "Isso eu afirmo, assino embaixo e registro em cartório", afirmou.