Título: Gordura deixa de ser apenas vilã
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2005, Saúde & Ciência, p. A8

A gordura, tão notoriamente condenada para saúde, também tem uma função benéfica para o organismo. Uma proteína produzida pelo tecido adiposo - chamada adiponectina - previne contra a diabetes e doenças cardíacas. Mas isso não significa que o melhor é estar acima do peso, de acordo com uma pesquisa realizada no Laboratório de Microcirculação da UERJ:

- Identificamos que os pacientes obesos com marcadores de risco de mau funcionamento dos vasos sanguíneos tinham uma baixa quantidade de adiponectina - conta a endocrinologista e coordenadora do estudo Luciana Bahia.

Por isso, as células gorduras não podem estar em excesso, porque perdem a capacidade de produzir esta substância.

- Essa proteína melhora a ação da insulina, hormônio defeituoso no diabético; além de ser anti-inflamatória, protegendo contra a arteriosclerose. As conseqüências mais sérias são infarto do miocárdio e o AVC - afirma a especialista.

A arteriosclerose caracteriza-se pela inflamação e depósito de gorduras na parede dos vasos sanguíneos, podendo entupir as artérias.

Na pesquisa, foram acompanhados 20 indivíduos acima do peso, com tendência genética a ter doenças cardíacas e diabetes e 10 pessoas com o peso ideal, para efeito comparativo. Os pacientes, que tinham por volta dos 40 anos, tomaram um medicamento chamado rosiglitozona para estimular a produção de adiponectina. O remédio se mostrou eficaz, conseguindo aumentar em 300% o nível da proteína.

No entanto, a médica recomenda que a melhor solução para estimular a produção da proteína é emagrecer e praticar exercícios físicos.

O analista de sistemas, Marcos Mefano, de 48 anos, tem 1m 78 cm e quando participou da pesquisa pesava 120 kg. Sedentário e com histórico familiar de diabetes comprovou o que já imaginava: tinha propensão à doença.

- Depois do estudo, comecei a fazer dieta e a praticar hidroginástica três vezes por semana - conta.

Luciana explica que, como as pessoas muitas vezes não conseguem perder peso, ela e sua equipe tentam buscar os melhores tratamentos, com remédios, que desenvolvam a produção da substância protetora.

Outro estudo, feito pelo Instituto de Medicina Preventiva, em Copenhague, também comprovou as propriedades da adiponectina, mostrando que mulheres curvilíneas vivem mais. Mais de 3 mil homens e mulheres, entre 1987 e 1988, tiveram suas medidas tiradas. A equipe coordenada por Berit Heitmann comparou, em 2001, os índices de mortalidade e de problemas cardiovasculares entre as mulheres de quadris largos e estreitos. As curvilíneas tiveram menores índices de problemas cardíacos e de mortalidade, graças a adiponectina.

- Gordura nos quadris é diferente de gordura no abdômen - explica Heitmann.