Título: Estatais levam mais R$ 876 milhões
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Economia, p. B5

Com problemas financeiros, de serviços e gestão, elétricas do Norte e Nordeste continuam a sangrar o caixa da Eletrobrás RIO - A Eletrobrás vai gastar este ano R$ 876 milhões para manter em operação sete distribuidoras de energia das regiões Norte e Nordeste, aumentando um rombo que já ultrapassa os R$ 6 bilhões, volume aportado nas empresas desde que foram federalizadas, a partir de 1997. A situação preocupa investidores e acionistas minoritários da estatal, que temem que a sangria não pare tão cedo. Tem impacto também no bolso dos contribuintes, em última instância, acionistas majoritários da Eletrobrás.

Essas empresas são a sobra do processo de privatização do setor, iniciado nos anos 90, que culminou com a transferência de 21 distribuidoras antes controladas por governos estaduais. Deficitárias, as sete companhias não atraíram compradores e foram incorporadas pelo governo federal durante a renegociação das dívidas dos Estados. A Eletrobrás, holding do setor elétrico, foi designada para tentar sanear suas finanças.

Estão nessa lista a Ceam (AM), Manaus Energia, Boa Vista Energia, Ceron (RO), Cepisa (PI), Ceal (AL) e Eletroacre. Todas enfrentavam sérios problemas financeiros e de qualidade de serviços na época da privatização.

Na Eletrobrás, são encaradas como investimentos temporários, que darão algum retorno assim que as condições melhorarem. "Estamos empenhados no sentido de sanear e melhorar as empresas, seja para vender ou para ficar com elas", diz o presidente da estatal, Silas Rondeau.

"São recursos que estão sendo jogados fora e não terão retorno para o acionista", discorda o analista da corretora Ágora Sênior, Rafael Quintanilha. Os valores aportados este ano seriam suficientes para construir a Ferrovia Norte-Sul, projeto de infra-estrutura considerado essencial para reduzir os gargalos logísticos do País. Os R$ 6,5 bilhões gastos desde 1997 se equivalem, por exemplo, ao orçamento deste ano do Programa Bolsa-Família.

O presidente da Eletrobrás diz que os recursos são usados para melhorar a qualidade dos serviços, além de ajudar a fechar o caixa das empresas, que sofrem com grandes níveis de perdas técnicas e comerciais.

Balanço consolidado das sete distribuidoras apontava, em 31 de dezembro de 2004, uma inadimplência de R$ 618 milhões. Em alguns casos, os piores pagadores são empresas e instituições do setor público, o que dificulta ainda mais as cobranças.

O físico Pinguelli Rosa disse que, quando esteve à frente da Eletrobrás, conseguiu negociar pagamentos de alguns inadimplentes. Rondeau afirma que o trabalho de acerto de contas continua sendo feito.

Um dos principais entraves, porém, diz respeito ao que representam as distribuidoras nos Estados onde atuam. Na maior parte dos casos, são as maiores empresas locais, geram empregos, garantem investimentos e, como ainda têm conotação política, podem fazer candidatos a cargos eletivos.

Em todas essas empresas, diz Pinguelli, há postos ocupados por apadrinhados de políticos locais. Em sua gestão, ele conseguiu que pelo menos o diretor-financeiro de cada uma fosse indicado pela Eletrobrás.

Por isso, há quem defenda na estatal uma estratégia de reduzir os aportes a cada ano, para que as distribuidoras aprendam a andar com as próprias pernas, proposta que também enfrenta resistência política.

A Eletrobrás criou um plano de gestão para as empresas, com metas financeiras e de qualidade de serviços. Rondeau garante que o trabalho já apresenta resultados. Ele cita a Ceron, cuja geração de caixa cresceu 735%, de R$ 2,6 milhões em 2003 para R$ 21,7 milhões em 2004 . O desempenho é fruto de uma política de redução de custos e de perdas técnicas e comerciais.

Mesmo assim, Rondeau admite que a situação está longe de ser resolvida. Pinguelli propõe a fusão das empresas para reduzir ainda mais os custos. Novamente, a questão esbarra nos interesses políticos dos Estados, diz uma fonte, já que diminui a margem para alocação de indicados dos governos locais.