Título: Impasse na UE pode prejudicar brasileiros
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Economia, p. B3

Fracasso nas negociações do orçamento europeu terá impacto na agricultura GENEBRA - O fracasso de sexta-feira nas negociações sobre o orçamento europeu até 2013 terá um impacto não apenas na economia dos países da União Européia (UE), mas indiretamente também pode afetar o futuro da agricultura brasileira. A questão é que, no centro da fracassada cúpula européia, está o volume de dinheiro público que será gasto com subsídios para a agricultura européia. O Brasil alega que esses subsídios são em grande parte responsáveis pela queda nos preços das commodities e por deslocar os produtos brasileiros em terceiros mercados. Hoje, nas proximidades de Genebra, os europeus organizam reunião com apenas 12 países, entre eles o Brasil, para tentar avançar no debate sobre a rodada de liberalização da Organização Mundial do Comércio (OMC). A falta de acordo dentro da própria UE sobre quanto deve ser o futuro volume de subsídios, porém, não abre boas perspectivas sobre o comportamento de Bruxelas nas negociações internacionais.

Mais de 40% do orçamento europeu é destinado ao setor agrícola, dos quais 25% vão para os franceses. Não por acaso, Paris é quem mais resistiu a qualquer proposta de mudança no orçamento até 2013, alegando que uma redução no orçamento de Bruxelas afetaria a produção agrícola do país.

Em 2002, os recursos para a agricultura já haviam sido estabelecidos, mas governos que não dependem na mesma proporção desses subsídios, como a Inglaterra, deixaram claro agora que não querem mais pagar pela falta de eficiência do setor agrícola e dar quase metade dos recursos da UE para um setor que gera apenas 2% dos empregos da Europa. O embate entre o presidente da França, Jacques Chirac, e o premiê britânico, Tony Blair, acabou, portanto, sendo inevitável.

Para observadores em Genebra, se nem mesmo os ingleses conseguiram convencer os franceses a mudar de opinião sobre os subsídios, está claro que será difícil para o resto da comunidade internacional dobrar os países mais protecionistas da Europa. A perspectiva dos países emergentes é conseguir um compromisso com os países ricos para a eliminação dos subsídios à exportação e reduções substanciais no volume de ajuda interna. O acordo teria de ser fechado até o fim de 2006, mas os países da OMC têm até dezembro para definir qual será o ritmo e a profundidade dessa liberalização no setor agrícola.

Os negociadores mais otimistas preferem destacar que o fato de a insistência francesa pelos subsídios não ter prevalecido pode mostrar que a Política Agrícola Comum vigente há mais de 40 anos já não é unanimidade na Europa e que está na hora de uma reforma.

Quem está preocupado com a falta de unanimidade são os fazendeiros europeus, que não querem perder os benefícios. Para o presidente da Confederação Geral de Agricultura da Europa, Rudolf Schwarzbock, a UE somente pode contar com uma política agrícola se houver uma previsão sobre o financiamento do setor.