Título: Brasil tenta apoio do Mercosul para ganhar presidência do BID
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Economia, p. B3

O candidato João Sayad também vai visitar o México, Guatemala e países do Caribe WASHINGTON - Um dos objetivos do governo brasileiro na cúpula do Mercosul em Assunção, que termina hoje, é garantir o endosso dos demais países do grupo à candidatura de João Sayad para suceder o uruguaio Enrique V. Iglesias na presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Apesar dos progressos obtidos em recente visita do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a seu colega argentino,Roberto Lavagna, o governo brasileiro não se surpreenderá se houver resistência do presidente Nestor Kirchner, que não tem perdido oportunidade para criar dificuldades com o Brasil. Lançado oficialmente há duas semanas, Sayad inicia hoje sua campanha em busca de apoio dos países do hemisfério com viagens ao México, Guatemala e países do Caribe. A votação será em 27 de julho. Para ser eleito, Sayad terá de obter duas maiorias: o apoio de pelo menos 15 dos 28 países das Américas membros do BID e mais de 50% do capital votante - os Estados Unidos tem 30% das ações. Brasil e Argentina são os segundos maiores acionistas, com 10,7% do capital cada um. Seguem-se, em ordem de importância, México (6,9%), Venezuela (5,7%), Japão (5%) e Canadá (4%).

Sayad pediu licença sem remuneração do cargo de vice-presidente do BID para Finanças e Administração para fazer campanha. Além de uma sólida formação de economista e professor com doutorado na Universidade de Yale e uma vasta experiência na administração pública e no setor privado, Sayad conta com o apoio de Iglesias e o respaldo de importantes membros da oposição no Brasil, como o prefeito de São Paulo, José Serra. Apesar desses fatores positivos e da visibilidade que tem em seu País, o candidato brasileiro é pouco conhecido no hemisfério e precisará de toda ajuda que puder mobilizar.

As denúncias de corrupção que abalaram o governo petista nas últimas semanas certamente não ajudam e vieram a complicar um esforço cujo desfecho tem importantes implicações para o governo brasileiro. O recente fiasco da candidatura brasileira à direção da Organização Mundial de Comércio e os obstáculos que a China e os Estados Unidos puseram nas últimas semanas à eventual ascensão do Brasil a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas - a prioridade externa número um da administração petista - tornam a disputa pelo comando do BID um teste decisivo para o prestígio internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da liderança regional do Brasil.

CONCORRENTES

No momento, o nicaragüense Mario Alonso é o único concorrente lançado para disputar a presidência do BID com João Sayad. Mas a lista de candidatos deve aumentar até 15 de julho, quando termina o prazo para a apresentação de nomes.

Na semana passada, o presidente do Peru, Alejandro Toledo, afirmou que apresentará seu ministro das Finanças, Pedro Pablo Kuczynski. Outro nome citado é o do atual presidente da Confederação Andina de Fomento, o boliviano Enrique García. Ex-alto funcionário do BID, García é visto como possível candidato se um favorito não emergir. Outro pretendente é o atual embaixador da Colômbia nos EUA, Luiz Alberto Moreno. Ele tem ótimo trânsito em Washington e conta com a simpatia de setores importantes do governo americano.

Mas Moreno já tropeçou um par de vezes antes de chegar à linha de largada. Primeiro, a Colômbia lançou a candidatura antes de Iglesias renunciar, uma gafe que provocou reações negativas de outros países. Além disso, uma trapalhada do governo mexicano pode ter liquidado as chances de Moreno. Um dia depois de o chanceler Luiz Ernesto Derbez ter declarado o apoio do México ao colombiano, o secretário das Finanças, Francisco Gil Díaz, o desautorizou em nota oficial. Gil Díaz esclareceu que o México reserva-se o direito de lançar um nome.