Título: 'Não se integrar é perecer', alerta chanceler paraguaia
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Economia, p. B1

Leila Rachid, famosa por sua astúcia e 'choros' em cúpulas do Mercosul, defende aprofundamento da integração do bloco ASSUNÇÃO - "Napoleão Bonaparte dizia que as mulheres têm duas armas temíveis: maquiagem e lágrimas." Assim, um alto diplomata ilustrou o arsenal usado pela chanceler do Paraguai, Leila Rachid de Cowles, durante a cúpula do Mercosul em julho de 2004, para adiar por bom tempo a aprovação do fim da dupla tributação na circulação de bens no Mercosul, que faria seu país perder parte substancial de sua receita. Para os admiradores, essa loira mignon de 50 anos tem um raciocínio ágil e é capaz de enrolar os mais experientes diplomatas. Ex-embaixadora em Washington, é a mulher paraguaia que mais alto chegou na hierarquia do poder em um país onde o machismo predomina. Nesta entrevista, ela defende maior integração do Mercosul e sustentou que "neste mundo globalizado, não estar integrado, é perecer". No Paraguai e Uruguai - os países pequenos do Mercosul -, sempre surgem críticas ao comportamento dos grandes - Brasil e Argentina - que muitas vezes tomam decisões importantes sem consultar os sócios menores. Isso pode mudar?

É preciso lembrar que Brasil e Argentina têm um acordo que foi a pedra inaugural do Mercosul, que é o Acordo de Complementação Econômica Número 14. Essa bilateralidade continua, embora existam quatro Estados no bloco. Mas é evidente que o processo avançou, pois temos um bloco em gestação. Dia a dia, a integração se aperfeiçoa. Temos só 14 anos. Às vezes, alguns setores sentem-se atingidos e dão o alerta. E nós do governo estamos aqui para ouvi-los. O processo de integração nunca se esgota. Precisa de muita esperteza e imaginação e também a adaptação às realidades das entidades nacionais.

Alguns setores criticam que o Mercosul se dedica muito ao lado comercial e deixa de lado outras faces da integração.

Na área política, estamos adotando uma cláusula inédita nos processos de integração, de estímulo e defesa dos direitos humanos, para preservá-los em crises que poderiam ocorrer em um dos países-sócios.

É possível um país sócio do Mercosul deixar o bloco?

Neste mundo globalizado, não estar integrado é perecer.

A crise no governo Lula prejudica a integração do bloco?

Apesar da integração, é fundamental o respeito aos assuntos internos. Consideramos que nossos queridos irmãos brasileiros saberão superar esses momentos. Confiamos muito no presidente Lula, é um grande amigo.