Título: Brasil ajudará Paraguai e Uruguai
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Economia, p. B1

País arcará com 70% do fundo a ser criado no encontro do Mercosul para apoiar as economias mais fracas do bloco ASSUNÇÃO - Os países do Mercosul concordaram na criação de um fundo destinado ao desenvolvimento das economias mais fracas do bloco. Essa é a medida de maior destaque aprovada na 28ª Reunião de Cúpula do Mercosul. Denominado Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento das Instituições do Mercosul (Focem), a entidade contará, segundo anunciou a chanceler paraguaia Leila Rachid, com US$ 100 milhões anuais. Os principais beneficiados serão os "países pequenos" do bloco, isto é, o Paraguai e o Uruguai, que receberão a maior parte do fundo. A União Européia foi a inspiração do Focem, já que na Europa os países mais ricos - como a Franca e a Alemanha - forneceram ajuda aos menos desenvolvidos - como Espanha, Grécia e Portugal - para que eles se adaptassem e modernizassem para a integração.

O Brasil será o maior financiador do Focem, pois vai pôr 70% dos US$ 100 milhões. A Argentina será a responsável por 27%. O Uruguai porá só 2%; o Paraguai, 1%.

De forma inversamente proporcional à contribuição, o Paraguai receberá 36% dos fundos do Focem. O Uruguai contará com 24%. O Brasil e a Argentina, juntos, repartirão os 40% restantes do Fundo.

O dinheiro do Focem será usado para desenvolver as estruturas produtivas das economias menores. Isso será feito por meio do financiamento dos projetos de convergência estrutural, programas de desenvolvimento de competitividade, além de programas sociais.

O anúncio da criação do Focem foi feito por Leila Rachid durante uma entrevista, acompanhada pelo chanceler Reynaldo Gargano, do Uruguai; e os vice-chanceleres da Argentina, Jorge Taiana e do Brasil, Samuel Pinheiro Guimarães.

O diplomata brasileiro, famoso por raramente conversar com a imprensa, não estava à vontade na entrevista. Durante as explicações de Leila, especificamente quando ela afirmava que o Focem contaria em breve com US$ 100 milhões anuais (a maior parte fornecida pelo Brasil), Pinheiro Guimarães ficou batendo os dedos na mesa.

Do lado brasileiro, negociadores indicaram que a quantia de US$ 100 milhões não seria atingida imediatamente, mas de forma gradual, em um período de alguns anos.

Ontem, em conversa com jornalistas brasileiros e argentinos, o vice-chanceler Taiana destacou a relevância dos fundos estruturais: "Houve um reconhecimento da existência das assimetrias econômicas. Uma coisa é falar sobre o assunto, mas outra coisa é uma medida prática como esta." Segundo Taiana, o Focem é considerável, "se for levado em conta que em dez anos terá alcançado US$ 1 bilhão".

Nas reuniões de ministros e secretários das Chancelarias dos países sócios realizadas no Hotel Excelsior, no centro de Assunção, o tom generalizado era que o bloco precisava superar o clima de estancamento e de constantes rusgas que surgem entre os sócios.

O relatório da presidência pro tempore do Grupo Mercado Comum ao Conselho do Mercosul, ao qual o Estado teve acesso, indica que "se nota uma certa insatisfação com os resultados do processo de integração. São comuns as críticas com relação à falta de avanço do processo, à persistência de restrições ao comércio intrazona, à ausência de uma efetiva coordenação macroeconômica entre os sócios e à dificuldade em definir políticas comuns e coordenar posições em foros internacionais".

Nas discussões, as delegações concordaram que haverá problemas para a integração do Mercosul se não houver uma percepção de que os benefícios da integração são para todos.

Informações extra-oficiais indicaram que a delegação argentina insistiu que o Mercosul deve avançar imediatamente na coordenação macroeconômica dos sócios, pois o momento é adequado, já que as economias dos países estão apresentando substancial crescimento. "Não dá para correr o risco de perder esta oportunidade", explicaram.

A cúpula, iniciada no sábado, termina hoje esvaziada, pois ontem, no fim da tarde, quando desembarcou na capital paraguaia, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, planejava ficar pouco mais de três horas, tempo suficiente só para participar do jantar com seus colegas. Kirchner pretendia partir depois do banquete, pois hoje presidirá as cerimônias do Dia da Bandeira.