Título: Reforma ministerial esbarra na resistência do PT a ceder espaço
Autor: Denise Madue¿o
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Nacional, p. A4

Divisão interna do partido também dificulta decisão de Lula sobre rumo da Coordenação Política e emperra conclusão da mudança BRASÍLIA - A nova reforma ministerial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva esbarra nas mesmas dificuldades que fizeram fracassar a tentativa anterior de mudança no primeiro escalão do governo, depois de sete meses de negociações. São os mesmos problemas: a recusa de setores do PT em abrir espaço para outros partidos aliados, a resistência a nomes que poderão ocupar os postos e a divisão interna do partido de Lula. A indefinição sobre o que fazer com a articulação política do governo com a iminente transferência da ministra das Minas e Energia, Dilma Rousseff, para a Casa Civil se tornou um problema para a conclusão da reforma. Dilma, ontem, no Paraguai, negou-se a fazer declarações sobre sua eventual passagem para a chefia da Casa Civil. A ministra, que está na capital paraguaia para participar da 28.ª Reunião de Cúpula de Ministros e Presidentes do Mercosul, afirmou: "Eu só vou falar quando tiver uma posição bem definida a esse respeito." Perguntada pela imprensa brasileira se durante sua estadia de 24 horas em Assunção poderia dar uma resposta sobre a hipotética mudanca de ministério, Dilma disse: "Não, não."

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que anunciou sua saída na quinta-feira passada, deixa oficialmente o cargo hoje para reassumir seu mandato de deputado. O papel reservado pelo presidente Lula para Dilma na Casa Civil é o de implementar ações de governo, mas, até ontem, havia dúvidas sobre a manutenção da coordenação política no Palácio do Planalto. A alternativa de deixar para os líderes no Congresso a tarefa de fazer a articulação política não é pacífica no PT.

A avaliação de petistas interlocutores de Lula é que a mudança agora na estrutura da articulação, com a extinção do Ministério da Coordenação Política, poderia trazer dificuldades na área onde o governo mais está vulnerável, faltando praticamente um ano e meio para o fim do mandato. Para esses petistas, no entanto, o titular da pasta, ministro Aldo Rebelo, deve deixar o posto abrindo espaço para o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara. Aldo, assim como Dirceu, reassumiria seu mandato de deputado federal.

Mesmo com o convite do presidente para ocupar a Casa Civil aceito, a ministra Dilma ainda recebe críticas de setores do PT, que questionam a vinculação da ministra ao partido. A ministra era tradicionalmente do PDT e só entrou no partido na metade do governo Olívio, quando o PDT rompeu com o PT no Rio Grande do Sul. Nos últimos dias, parte do PT tentou forçar o nome de Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) para a Casa Civil ou de outra pessoa que tivesse esse papel, citando o nome do ministro da Educação, Tarso Genro.

O PT está colocando outro obstáculo à reforma com a provável volta do ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, para a Câmara dos Deputados. Além de perder uma pasta ligada a questões históricas do PT, o partido reclama da provável indicação do PP para o cargo. O deputado Francisco Dornelles (RJ), um dos nomes cotados, foi ministro do Trabalho no governo de Fernando Henrique Cardoso, hoje considerado um dos maiores adversários dos petistas.