Título: Para relator da CPI dos Correios, Lula pode acabar como Collor
Autor: José Antônio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Nacional, p. A5

Apesar de governista, deputado do PMDB diz que presidente foi omisso e vários parlamentares serão cassados LONDRINA - O relator da CPI Mista dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), faz uma previsão sombria sobre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Vamos ver acontecer o que aconteceu com Collor." O deputado refere-se ao processo de impeachment que culminou com a cassação do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Serraglio fez esta declaração na sexta-feira à noite, durante o programa Entrevista Coletiva, da TV Tarobá, de Cascavel (PR). O deputado, que foi escolhido relator por ser de confiança do governo Lula, mostrou-se firme ao ser questionado pelos entrevistadores se a CPI iria até as últimas conseqüências ou terminaria em pizza, como muitas outras. Serraglio foi categórico: no que depender dele, garantiu, as denúncias de corrupção nos Correios e de existência do mensalão serão apuradas "rigorosamente". Serraglio foi firme em relação a Lula que, para ele, foi "omisso" ao tratar das denúncias de corrupção, sobretudo quanto ao mensalão, sobre o qual o presidente foi alertado pelo governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Na opinião de Serraglio, se forem comprovadas a existência do mensalão e a conivência do governo petista com essa irregularidade, vários deputados serão cassados. "Aí nós vamos ver acontecer o que aconteceu com Collor".

Aliás, em relação ao mensalão - que poderá ser investigado pela CPI dos Correios ou por outra CPI específica - Serraglio disse acreditar em sua existência. "Acredito, mas não sei em que nível", disse. "Fala-se em partidos, mas tem muita gente séria nesses partidos", ressalvou.

SUSSURROS

Segundo o deputado, a existência do mensalão era sussurrada há meses no Congresso e não foi investigada antes porque "ninguém faz nada antes de ter informações mais detalhadas".

Serraglio está no segundo mandato. No governo de Fernando Henrique Cardoso, garantiu, não houve esse tipo de pagamento a deputados em troca de apoio aos projetos do governo. O relator da CPI, que declarou na edição de ontem do Estado sentir-se incomodado quando o classificam de "chapa-branca" por pertencer à ala governista do PMDB, admitiu apoiar o governo, mas com "ressalvas". Entre essas ressalvas, ele apontou a ocupação da máquina administrativa por petistas, sem a exigência de concurso. Em segundo lugar, a capacidade técnica do primeiro escalão do governo.

"Acho que ele (o presidente Lula) tinha que ter sido mais criterioso na composição do ministério, até em matéria do PT... as pessoas que não tinham onde ser acomodadas e viraram ministros, não é por aí", disse Serraglio.