Título: Denúncias de compra de votos marcam eleições
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Internacional, p. A9

TRÍPOLI, LÍBANO - Azzam al-Jassem protelou até o último minuto para decidir em quem ia votar nas eleições do Líbano. Não porque ainda estivesse em dúvida entre os candidatos. Jassem, na verdade, esperava a melhor oferta para vender seu voto - e o de toda sua família. Fugindo do sol escaldante, Jassem se refugiava com seus primos dentro de um quiosque. Ele disse que havia rejeitado uma proposta de cerca de US$ 6 mil pelos cem votos da família. "Uma cabra custa US$ 100. Meu voto não pode ser mais barato que uma cabra", disse à agência Reuters. Alegações de compra de votos mancharam ontem a última rodada das eleições, no norte, onde mais de cem candidatos disputavam as 28 cadeiras parlamentares restantes. Nas primeiras eleições do Líbano em três décadas sem a presença militar síria, a lista anti-Síria, liderada pelo líder muçulmano sunita Saad Hariri, concorreu contra a aliança pró-Síria de Suleiman Franjieh. Nenhuma das duas campanhas admitiu a compra de votos. Entretanto, muitas pessoas entrevistadas na cidade de Trípoli disseram que receberam propostas em dinheiro dos dois partidos para vender seus votos. A maioria, no entanto, se recusou a identificar-se. "Sou pobre e estou desempregado", afirmou um homem de 35 anos que disse ter votado na lista de Hariri por US$ 50 e por cupons para comprar gasolina. "Esperamos pelas eleições para conseguir dinheiro, presentes e novas roupas." Daniel, na faixa dos 20 anos, afirmou que simpatizantes de Hariri lhe ofereceram a mesma soma, mas ele contou que ia votar na lista de Suleiman Franjieh.