Título: Militância do PT reage mal à permanência do tesoureiro
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Nacional, p. A8

Manutenção de Delúbio e Silvio Pereira nos cargos incomoda integrantes do partido

A manutenção nos cargos de direção do PT do tesoureiro, Delúbio Soares, e do secretário-geral, Silvio Pereira, já começa a provocar reação negativa nas bases de apoio do partido. Depois de conversar com integrantes da base petista em vários Estados, como Minas Gerais, São Paulo, Paraíba, Ceará e Amazonas, o vice-presidente nacional do PT, Romênio Pereira, admite que a decisão de manter Delúbio e Silvio está sendo mal recebida. "Não é que seja uma desconfiança dos militantes em torno da situação dos dois. Mas há, inegavelmente, um desconforto. Pelo que percebo, havia a expectativa de que os dois tivessem pedido um período de licença do partido para poderem dar suas explicações", afirma Romênio. Na avaliação do dirigente petista, a decisão de pedido de afastamento do partido é de foro íntimo de Delúbio e Silvio Pereira. Mas reconhece também que a manutenção de ambos em postos centrais do comando do PT poderá provocar algum tipo de desgaste. "Eu não tenho dúvidas de que existe uma campanha organizada para tentar desestabilizar o PT com denúncias infundadas e injustas. Considero injustos e irresponsáveis esses ataques contra o PT. Mas nesse processo de investigação, que é longo dentro do Congresso, pode haver desgaste", avalia. Candidato a presidente do PT pela Democracia Socialista (DS), principal corrente de esquerda da sigla, o deputado gaúcho Raul Pont acredita que o afastamento temporário dos dirigentes - até a conclusão das investigações - seria mais adequado tanto para o PT quanto para o governo. "Nossa avaliação é que tanto o Delúbio quanto o Silvio não são culpados. Mas eles não quiseram adotar uma posição semelhante ao Dirceu (ao ministro demissionário, José Dirceu)", afirma. "Se eles se licenciassem, poderiam até se concentrar em suas defesas", acrescenta Pont.

REMUNERAÇÃO

O senador Eduardo Suplicy (SP) também considera que o afastamento de Delúbio e Silvio seria mais adequado. Na reunião do diretório nacional de anteontem, Suplicy foi um dos cinco petistas que defenderam explicitamente a licença dos dirigentes do partido. "Eu, inclusive, propus que a licença fosse remunerada. Com o desligamento deles das funções do partido poderiam se dedicar, em tempo integral, a esclarecer os fatos", observa. "Se um dia acontecesse comigo, pediria licença em benefício do PT e da instituição que represento." Apesar de ter sugerido que Delúbio e Silvio se licenciassem do partido durante as investigações, Suplicy afirma que concordou com o presidente do PT, José Genoino, de que o futuro do tesoureiro e do secretário-geral do partido não deveria ter sido decidido em votação pelos 81 representantes do diretório nacional da sigla. "A saída deveria ser com a anuência deles", diz ele. Na avaliação de Suplicy, Delúbio e Silvio Pereira teriam feito "um gesto importante" se, a exemplo do ex-ministro José Dirceu, tivessem tomado a iniciativa de deixar suas funções. "A decisão de pedir licença não significaria aceitação de culpa de maneira alguma", comenta.

DISPOSIÇÃO

Suplicy destaca que tanto Delúbio quanto Silvio se colocaram à disposição das bancadas do PT na Câmara e do Senado para dar explicações sobre os episódios apontados pelo deputado Roberto Jefferson. "Considerei positivo ambos terem se colocado à disposição das bancadas", diz. Além de Suplicy. também defenderam abertamente a saída de Delúbio e Silvio os deputados federais Maria do Rosário (RS), candidata à presidência do partido pela corrente Movimento PT, Chico Alencar (RJ) e Ivan Valente (SP) e o deputado estadual Renato Simões, líder do PT na Assembléia Legislativa paulista.