Título: PF apura se Delúbio agiu com máfia do sangue
Autor: Vasconcelo Quadros
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2005, Nacional, p. A8

Nome do tesoureiro do PT aparece em grampos autorizados pela Justiça

BRASÍLIA - O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, poderá se tornar alvo das investigações que resultaram na Operação Vampiro, ainda em fase de apuração na Polícia Federal. O nome de Delúbio é citado indiretamente em conversas telefônicas entre os integrantes da quadrilha que fraudava as licitações relacionadas à compra de hemoderivados que o Ministério da Saúde distribuía a hemofílicos. No grampo autorizado pela Justiça, a Polícia Federal e o Ministério Público encontraram, há 13 meses, os primeiros sinais de que o tesoureiro poderia estar envolvido num suposto esquema de arrecadação de propina. O que se investiga agora são fitas cassetes com mais de 40 horas de gravação, cuja transcrição - por ordem do juiz Clovis Barbosa Siqueira, da 10.ª Vara Criminal da Justiça Federal - está sendo feita pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal.

O laudo da transcrição é fundamental para o julgamento dos 20 réus apanhados na operação. O grampo não "capturou" os telefones do tesoureiro, mas gravou conversas de lobistas que discutiam licitações, contratos e propinas. Um deles, Laerte de Arruda Correa Júnior, fala em nome de Delúbio. Os trechos mais interessantes das conversas ocorreram entre Jaisler Jabour, tido como o mais importante alvo do esquema, e o lobista Francisco Danubio Honorato. São eles que situam Laerte como homem do PT, subordinado informalmente a Delúbio Soares. "O pessoal de Brasília só quer que deixem o dinheiro", diz Jabour numa das gravações, onde discute uma suposta remessa de dinheiro do Rio de Janeiro para Brasília. Em outro trecho, diante de dificuldades que estariam ocorrendo no fechamento de contratos com o Ministério da Saúde, Jabour diria que alguém faria a ponte para eliminar obstáculos. "O pessoal de Brasília resolve", teria dito. Alguns trechos do grampo foram citados nos autos do processo, mas a polícia não encaminhou todas as fitas. "É preciso comprovar a contemporaneidade entre o que é citado na denúncia e o que existe nas fitas, que ainda não foram mostradas", diz o advogado Felipe Amodeo, que defende Jabour. O pedido de encaminhamento das fitas praticamente interrompeu o andamento do processo. Depois de idas e vindas, o juiz determinou que a polícia cumpra o pedido da defesa, faça a transcrição do que há no grampo e encaminhe um relatório à Justiça explicando o resultado das investigações.

CAIXA DOIS As citações indiretas não são as únicas referências a Delúbio. Em depoimento anexado ao processo, Honorato diz que Jabour contou a ele que Laerte "por diversas vezes" o procurou exigindo dinheiro para campanhas de candidatos do PT. Laerte apresentava-se como pessoa influente no governo e, segundo comentários que Honorato teria ouvido entre os lobistas que circulavam pelos bastidores da comissão de licitações, tinha autorização do tesoureiro do PT para solicitar dinheiro das empresas farmacêuticas e intermediar interesses dessas empresas junto ao Ministério da Saúde. As gravações e depoimentos colhidos em maio de 2004 poderiam servir para reforçar ou eliminar as suspeitas que já pairavam em torno de Delúbio como o operador de um suposto "caixa dois" no PT. Quando depôs, Jabour tentou negociar com a PF e o MP: contaria o que sabe sobre Delúbio e teria sua participação aliviada legalmente. O procurador Gustavo Pessanha afirma que Amodeo desaconselhou seu cliente. Pessanha lembra que, em julho de 2004, já solicitara à PF o relatório completo das transcrições das fitas. O mesmo pedido foi reforçado em 12 de maio, depois que Amodeo requisitou as fitas e a Justiça concordou. A Justiça não foi informada se Delúbio foi intimado para prestar depoimento.