Título: Endividamento público chega ao recorde de R$ 887,9 bilhões
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2005, Economia, p. B4

Novas emissões de títulos e juro básico alto levaram a esse resultado em maio O Tesouro Nacional foi conservador no início de junho e, preventivamente, reduziu a oferta de títulos ao mercado, no temor de uma reação às primeiras denúncias de corrupção que envolveram o governo numa crise política. Ao longo dos últimos meses, os leilões de títulos públicos estão sendo administrados de tal forma que permitiram montar um "colchão de liquidez" (reservas de caixa) para enfrentar turbulências no mercado financeiro como resposta à crise. Essas informações foram dadas ontem pelo coordenador-geral da dívida pública do Tesouro Nacional, Paulo Valle, ao divulgar as últimas informações sobre o endividamento público, que atingiu o saldo recorde de R$ 887,93 bilhões. O saldo da dívida em maio cresceu 1,6% em relação ao endividamento no mês anterior, que havia sido de R$ 873,83 bilhões. Segundo Valle, esse aumento foi provocado pela incidência da taxa de juros e do próprio crescimento do débito em razão da colocação de novos títulos no mercado. Os dados divulgados ontem mostram também que os papéis com correção prefixada atingiram R$ 195,82 bilhões, ou 22,05% do total da dívida - o maior índice desde 1999.

O coordenador afirma que a crise política não contaminou as condições do Tesouro para novos títulos. Segundo ele, os leilões deste mês foram executados com tranqüilidade, sem nenhuma alteração na demanda por títulos ou mesmo no custo de captação de recursos.

Valle contou que na primeira semana de junho, quando se configurou a crise política, o Tesouro decidiu conter a emissão de títulos. O mercado, segundo ele, respondeu favoravelmente, mantendo o interesse por títulos sem exigir juros maiores. Ao contrário, as taxas caíram na semana passada para os chamados títulos prefixados (a taxa de correção é conhecida previamente), em relação às praticadas entre 6 e 10 de junho.

Essa reação do mercado, segundo ele, pode ser explicada pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a Selic em 19,75%. Valle também chamou atenção para o esforço do Tesouro no sentido de formar um "colchão de recursos" para enfrentar um eventual agravamento da crise e a possibilidade de afetar a colocação de títulos.

Sobre os dados de maio, o coordenador do Tesouro destacou o aumento da participação dos títulos prefixados no total da dívida em papéis do governo federal, que atingiu 22,1%, o maior desde o início da série histórica em dezembro de 1999. Já a parcela da dívida prefixada com vencimento em até 12 meses foi reduzida dos 85,2% de abril para 77,4% em maio. E a participação de títulos corrigidos pela variação da Selic recuou ligeiramente, passando de 58,57% em abril para 57,24% no mês passado.