Título: Avessa a barganhas, é chamada de dama de ferro
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2005, Nacional, p. A4

Mesmo que o PMDB assuma a pasta, seria forma de garantir a continuidade administrativa de setor essencial

Ao longo de dois anos e meio à frente do Ministério de Minas e Energia, Dilma Rousseff cultivou a fama de dama de ferro. Foi firme ao negociar com empresários a reestruturação do setor elétrico e nunca demonstrou inclinação para acordos políticos. Agora que foi nomeada para a Casa Civil, vai fazer de tudo para garantir a permanência de técnicos de sua confiança no Ministério de Minas e Energia - entre eles, a secretária de Petróleo e Gás, Maria das Graças Foster, e o secretário-executivo, Nélson Hubner. Seria forma de garantir a continuidade administrativa, mesmo que o PMDB assuma a pasta. Para a Casa Civil, Dilma deve levar a Erenice Alves Guerra, consultora jurídica do Ministério das Minas e Energia. O objetivo da continuidade é prosseguir na implantação do novo modelo do setor elétrico. A maior preocupação é com a realização do primeiro leilão de energia nova que será usada para atender o mercado brasileiro a partir de 2009. Essa venda de energia, que será produzida por usinas ainda a serem construídas, está prevista para ocorrer até o fim deste ano. Outro desafio do novo ocupante do Ministério de Minas e Energia é o de coordenar saída para a energia velha, produzida pela atuais usinas, que não foi vendida nos leilões e tem provocado insatisfação entre empresas geradoras. PRISÃO E TORTURA

Mineira de 57 anos, Dilma viveu intensamente o período da ditadura militar, integrando movimentos de esquerda como o Política Operária (Polop) em 1967 e, a partir de 1969, o Comando de Libertação Nacional (Colina), que pregava a luta armada contra a ditadura e mais tarde se tornaria a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Naquela época, ela usou codinomes como Estela, Luíza, Patrícia e Wanda, o que não foi capaz de livrá-la de interrogatórios, prisão e tortura. Economista, com mestrado em Teoria Econômica, e doutoranda em Economia Monetária e Financeira, Dilma militou no PDT, antes de ingressar no PT. Foi no Rio Grande do Sul que começou no setor energético, ocupando por duas vezes a Secretaria Estadual de Minas e Energia: em 1993 e 1994, durante o governo de Alceu Colares (PDT), e de 1999 a 2002, no governo de Olívio Dutra (PT). Em outubro de 2002 foi convidada para compor a equipe de transição do governo Lula. Assumiu o Ministério de Minas e Energia com o compromisso de expandir o setor, garantir o abastecimento energético, com tarifas mais baixas, e evitar o fantasma do racionamento. Desde então vem costurando o novo modelo do setor elétrico com geradores, distribuidores, transmissores e comercializadores de energia, com quem teve vários embates. Mas foi exatamente na vertente política que Dilma teve sua grande derrota. Em abril deste ano, a Comissão de Infra-Estrutura do Senado vetou o nome do engenheiro José Fantine, indicado por ela para assumir a diretoria-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Integrantes do PMDB costuraram com a oposição o veto a Fantine. Logo em seguida, no mesmo mês, a ministra se viu em outro combate.

Desta vez com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, que se declarou favorável à retomada das obras de construção da usina nuclear Angra 3, vetada por Dilma. Com exceção destes dois episódios, a ministra sempre se mostrou sólida no cargo, mesmo nos momentos mais críticos do governo, durante as reformas ministeriais anteriores.