Título: Disputa eleitoral se radicaliza no Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2005, Internacional, p. A16

Regime clerical ordena suspensão de 2 jornais reformistas e candidato apoiado por liberais acusa clérigos 'reacionários' de difamá-lo

As duas tendências políticas que disputarão o segundo turno da eleição presidencial do Irã, na sexta-feira, radicalizaram ontem suas posições. O Poder Judiciário, sob controle dos clérigos ultraconservadores, ordenou ontem a suspensão, por tempo não especificado, da publicação dos diários Eqbal e Aftab-e Yazd, ambos reformistas. E o candidato conservador moderado Akbar Hashemi Rafsanjani acusou clérigos "reacionários" do regime islâmico de gastar dinheiro público numa campanha para difamá-lo, favorecendo seu rival, o linha-dura Mahmoud Ahmadinejad, prefeito de Teerã. Ontem vários grupos oposicionistas, cujos candidatos foram derrotados na eleição de domingo, formalizaram seu apoio a Rafsanjani no segundo turno. A principal organização estudantil abandonou sua campanha pelo boicote às eleições para apoiar Rafsanjani, que já presidiu o país de 1989 a 1997. Embora Rafsanjani seja um conservador, ele tem adotado algumas bandeiras reformistas, como a reaproximação com os EUA. A ordem judicial contra os jornais foi interpretada como uma ação da linha-dura para favorecer Ahmadinejad, que governa Teerã com mão de ferro. A Justiça acusou os jornais de divulgar material falso, espalhar rumores e perturbar a ordem. "Os dois jornais publicaram uma carta com críticas ao (líder supremo do Irã) aiatolá Ali Khamenei", disse o jornalista Issa Saharkhiz. Nos últimos cinco anos, cerca de cem publicações reformistas foram fechadas pelo Judiciário, cuja direção é nomeada por Khamenei, que tem a palavra final em todos os assuntos do país. A carta foi enviada a Khamenei pelo terceiro colocado na eleição de domingo, o reformista Mahdi Karroubi, que acusou os militares de terem infringido a lei, apoiando Ahmadinejad. Karroubi perdeu por pouco: recebeu 19,3% dos votos e Ahmadinejad, 19,48%. Na carta, Karroubi informou sua renúncia ao posto de conselheiro de Khamenei. Ontem, os funcionários da Justiça eleitoral disseram não ter constatado nenhuma irregularidade na recontagem de votos numa amostra de cem urnas de quatro grandes cidades onde houve denúncias de fraude, incluindo Teerã. O Departamento de Estado dos EUA demonstrou ceticismo em relação às declarações de Rafsanjani de que, se eleito, buscará estreitar os laços com o Ocidente. Para o governo dos EUA, as eleições foram "repressivas" e "não representativas".

ENERGIA NUCLEAR EUA e a União Européia emitiram ontem uma declaração conjunta pedindo ao Irã o congelamento de seu programa de enriquecimento de urânio e a cooperação com a ONU no setor de energia atômica. No documento eles se comprometem a assegurar que o Irã não adquira armas nucleares. O governo iraniano garante que seu programa nuclear tem finalidades pacíficas.