Título: MST e CUT ouvem Dirceu, mas exigem mudanças para ir às ruas
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2005, Nacional, p. A13

Líderes sindicais e representantes dos principais movimentos sociais do País estão dispostos a ir às ruas em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atendendo à convocação feita na sexta-feira pelo ex-ministro José Dirceu - durante um discurso no qual falou na existência de um plano para desestabilizar o governo. Esse apoio, no entanto, não será dado gratuitamente. Em troca, os movimentos sociais querem mudanças na política econômica. De acordo com João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem-Terra (MST), "está na hora de pôr o povo na ofensiva". No domingo, durante entrevista no programa de TV da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ele defendeu a unidade dos movimentos numa ação "antigolpista" e "em defesa de mudanças na política econômica". Luiz Marinho, presidente da CUT, a maior central sindical do País, vai na mesma direção. "O Lula precisa do nosso apoio", disse ele ao Estado. "Mas não vamos apoiar sem discutir mudanças na política econômica e sem cobrar uma aproximação maior com o setor popular." A primeira iniciativa nessa direção deve ocorrer hoje, no início da tarde, em Brasília. A Coordenação dos Movimentos Sociais, que agrega o MST e a CUT, entre outras entidades, vai divulgar a Carta ao Povo Brasileiro. O documento, cujo texto final será definido pela manhã, cobrará a apuração das denúncias de corrupção e a punição dos culpados. Mas também dará ênfase à necessidade de mobilização popular contra o golpe que estaria sendo articulado pela direita; e cobrará mudanças nos rumos da economia.

PASSEATA

No dia 1.º será realizada uma passeata dos movimentos sociais em Goiânia. Programada inicialmente para reunir apenas filiados à União Nacional dos Estudantes (UNE), ela foi ampliada em decorrência da crise política. No dia 13 haverá um ato público de apoio ao governo na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. E outras manifestações estão sendo programadas. Além da CUT, do MST e da UNE, a Carta ao Povo Brasileiro será assinada por representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), das pastorais sociais da Igreja Católica, movimentos de mulheres, organizações de sem-teto e de pequenos agricultores, entre outros. São grupos, segundo Marinho, que já perceberam que "está em curso um jogo político destinado a desconstruir a imagem de Lula, de seu governo e do PT, com o objetivo de facilitar o retorno dos que vinham governando o País." Esse retorno, segundo o presidente da CUT, não interessa ao setor popular. "Conhecemos bem o projeto do PSDB e do PFL. Ele se resume à redução do papel do Estado, com a privatização de tudo."

CORRUPÇÃO E COOPTAÇÃO A crítica desses grupos à política econômica é cada vez mais acentuada. De acordo com a carta final do 2.º Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra, encerrado domingo na cidade de Goiás, o descontentamento aumentou com as denúncias de corrupção. Segundo o texto, "o grito do povo ficou mais dramático quando denunciou que a esperança de mudança que a vitória de Lula tinha alimentado, não está se realizando." Mais adiante insiste que é preciso impedir que o dinheiro seja destinado prioritariamente ao pagamento da dívida do País e "na perversa dinâmica da corrupção e da cooptação." Não são só os movimentos sociais que tentam aproveitar o momento de fragilidade do governo para pôr em evidência as restrições à política econômica. Dentro do PT, os grupos mais esquerda no espectro ideológico, incluindo parte da bancada parlamentar, estão fazendo isso desde o início da crise.