Título: Cada diretoria era de um partido
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/06/2005, País, p. A5

O ex-diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho, disse ontem à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, que atendia os pedidos de todos os políticos, mesmo não sendo filiado a nenhum partido. O ex-chefe de departamento dos Correios foi flagrado em vídeo recebendo R$ 3.000 e dizendo que o PTB comandava esquema nas estatais, citando diretamente o nome do deputado federal Roberto Jefferson (PTB/RJ) Ele afirmou que cada uma das sete diretorias da empresa têm um partido político por trás. Segundo Marinho, o diretor de Administração dos Correios, Antônio Osório, seria do PDT, e o PT teria indicado as diretorias de Tecnologia e de Operações.

Marinho disse que ''falou demais na fita que foi gravada'' e que envolveu nomes que não deveria. Ele explicou que fez referência a diretores na fita para ''se valorizar'' e conseguir contratos para sua empresa de consultoria.

O ex-diretor conseguiria um contrato de R$ 25 mil como consultor de uma multinacional que está entrando no Brasil. Marinho afirmou que aceitou o dinheiro oferecido porque estava com problemas de saúde.

Maurício Marinho negou ainda na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito a existência de um esquema de arrecadação de dinheiro para os partidos políticos.

- O poder da caneta não estava na nossa mão - disse aos parlamentares.

Marinho explicou os processos licitatórios nos Correios e assegurou que não tinha ingerência direta sobre as concorrências da empresa. De acordo com o ex-diretor, cerca de 70% das fitas gravadas que serviram de base para a denúncia de corrupção nos Correios tratavam da área de Tecnologia e Informática, que não está sob sua responsabilidade. Marinho ressaltou ainda que as gravações pareciam uma ''verdadeira lavagem cerebral'', com um ''script já pronto'', em que ele era questionado sobre várias coisas.

- O objetivo era incriminar, e não só a mim. Existem outras coisas por trás dessas gravações - , garantiu o ex-diretor, ao revelar ainda que, por causa dessas perguntas específicas, havia, inclusive, trechos sem nexo nas gravações.

Ele disse ainda que não é bandido em nenhum grau e nunca pediu propina. ''Não sou corrupto.''

Maurício Marinho também ressaltou que resolveu prestar depoimento na CPI para dar uma satisfação ao público porque está em situação de saúde precária.